Por William Saliba (*)
O Departamento de Estado dos EUA divulgou um relatório anual que coloca em xeque a situação dos direitos humanos no Brasil, com foco especial na liberdade de expressão. O documento, que causou repercussão nos meios políticos e jornalísticos, acusa o Judiciário brasileiro de adotar medidas que prejudicam o debate democrático, a fluidez de informações e a liberdade de opinião.
O relatório aponta uma série de restrições que, segundo a avaliação americana, impactaram diretamente o cenário político e social do nosso país. Dentre as acusações, a mais grave é a de que a suspensão de perfis em redes sociais, como o X (antigo Twitter), foi “desproporcional” e direcionada principalmente a defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro. O texto americano sugere que o Judiciário brasileiro não se restringiu a penalizar conteúdos que incitassem ações ilegais, mas expandiu a repressão de forma arbitrária.
Ainda segundo o documento, o debate democrático no Brasil tem sido “prejudicado pela restrição de acesso a conteúdos online e pela repressão à fala de jornalistas e influenciadores digitais de direita”. Essa avaliação internacional se alinha a um debate interno cada vez mais acalorado, que questiona os limites entre a liberdade de expressão e o combate à desinformação no ambiente digital.
Apesar da seriedade do relatório, a imprensa tradicional brasileira, em grande parte, reagiu de forma cética ou minimizou suas conclusões. O jornalista Gerson Camarotti, em comentário na GloboNews, chegou a afirmar que não existe censura no Brasil, em uma defesa alinhada à narrativa predominante nos veículos de grande circulação.
A crítica de Washington, por outro lado, serve como um espelho que reflete as tensões internas e a polarização que afetam o debate público no país. Enquanto a mídia internacional se debruça sobre o tema, questionando os rumos do Estado de Direito no Brasil, a imprensa nacional parece, em parte, imune a essa discussão.
A ironia final, no entanto, fica por conta da própria realidade. Enquanto a “grande imprensa” nacional garante que não há censura, o autor deste texto foi, recentemente, censurado, tendo seu comentário removido de algumas plataformas de vídeo onde abordava justamente a questão da liberdade de imprensa. Da mesma forma, a mídia regional do Vale do Aço, de forma singular, trata os cidadãos condenados pelo 8 de janeiro, ironicamente, como “golpistas”, reforçando que, em alguns lugares, a liberdade de expressão parece ter filtros seletivos.
Como diz o ditado popular: “No creo en brujas, pero de que las hay, las hay”
(Em tradução literal: “Não creio em bruxas, mas que elas existem, existem.” A frase é amplamente atribuída a Sancho Pança, personagem do clássico “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes).





















