Por William Saliba (*)
Era uma vez, ao sul do Equador, um vasto e peculiar reino governado por um monarca com uma habilidade muito especial: ele era um encantador de mulas. Bastava que tocasse sua flauta mágica, e todos os burros e mulas do local o seguiam em fila, com grandes sorrisos estampados nos rostos. Esse rei, conhecido como o Reizinho, era baixinho, gorducho, tinha uma barba branca e poucos fios de cabelo que brilhavam como a neve.
No centro do reino, havia o Curral Real, lar dos burros e mulas que serviam diretamente à realeza e à sua corte. Esses animais eram tratados com o maior cuidado: comiam os melhores fenos, vestiam-se com laços coloridos e orgulhavam-se de ser politicamente corretos. “Sempre temos razão!”, diziam, em uníssono, ao som das palavras do rei.
Mais além, existia um outro curral, ainda maior, onde viviam os demais animais. Esses, ao contrário dos do Curral Real, eram trabalhadores incansáveis. Desde o nascer ao pôr do sol, aravam os campos, carregavam fardos e mantinham o reino funcionando. Mas nem tudo era alegria: os desobedientes eram castigados. Para essa tarefa, o Reizinho contava com um gênio peculiar, que ele havia encontrado dentro de uma garrafa dourada com um rótulo onde se lia “51”. Alto, calvo e com uma voz trovejante, o gênio impunha ordem com sua vara de chicotadas e grilhões que prendiam as patas dos rebeldes.
“É para o bem do reino!”, dizia o Reizinho, enquanto prometia feno de primeira qualidade para os trabalhadores. Contudo, a promessa era apenas uma desculpa para desviar riquezas para a Casa Real. A Rainha, sempre cheia de desejos extravagantes, tinha uma influência tão grande que muitos suspeitavam que ela era quem, de fato, governava o reino.
Um dia, algo estranho aconteceu. Um som grave e poderoso, parecido com o rugido de um leão, ecoou pelas terras do reino. A manada do Curral Real ficou em pânico. “Será que o grande leão dourado está vindo nos atacar?”, perguntavam-se uns aos outros. Rapidamente, os porta-vozes do Reizinho se apressaram em tranquilizar a todos: “É apenas o som de trovoadas distantes, vindas dos países do Norte. Nada com o que se preocupar.”
Mas os trabalhadores do grande curral não estavam convencidos. Eles sabiam que trovoadas não rugiam como leões e começaram a se perguntar: “E se isso for o prenúncio de algo maior? Uma mudança que nos liberte dos grilhões?”
E assim, enquanto o Reizinho continuava a tocar sua flauta e os animais do Curral Real seguiam dançando ao som da música, o eco do rugido persistia, semeando curiosidade e coragem entre os animais do grande curral.
Será que o leão estava realmente vindo? Ou seria apenas uma história para boi dormir? Bem, isso, meus queridos leitores, é algo que o tempo haverá de revelar.
E assim termina nossa história… por enquanto.
(*) William Saliba, diretor do Carta de Notícias, é jornalista profissional há 54 anos e detentor de vários prêmios no setor da Comunicação