Por William Saliba (*)
A popularização das redes sociais mostrou aos brasileiros o quanto nosso povo tem sido manipulado pela “velha mídia” nas últimas décadas. A democratização da informação através da internet resgatou o poder crítico e a importância da cidadania na formação de uma sociedade sadia. Por isso e outras coisas mais, as postagens eletrônicas incomodam tanto o sistema.
Gafes, fakes news, quedas de audiência, ataques aos valores éticos e morais da sociedade tradicional têm sido alvo de volumosa publicação de memes e críticas nas mídias sociais.
Três eventos televisivos marcaram o último final de ano e foram alvos de intensas críticas.
Quem mora no Leste e Norte de Minas, Região dos Lagos no Rio e no Rio Grande do Norte, onde a Globo é retransmitida pela rede afiliada InterTV, já se acostumou com a frequência das gafes e trapalhadas das suas equipes locais de jornalismo.
Na InterTV RJ, em Cabo Frio, a apresentadora do noticiário local, Isabella Chaboudt, e seu colega, Vinícius Ferreira, não perceberam que já estavam em transmissão ao vivo, quando ensaiavam o roteiro do programa.
Durante a preparação, a jornalista fez o comentário infeliz ao se referir aos turistas da Região dos Lagos: “Hoje é dia 31 de dezembro, graças a Deus último dia de 2024. Muita gente quer mais é aproveitar o dia, o sol, estar marcando presença na Região dos Lagos, e os turistas, como sempre, farofeiros…”A apresentadora só interrompeu sua fala ao perceber que estava no ar, tentando contornar a situação com um “Olá, bom dia” e retomando a apresentação formal do telejornal.
O termo “farofeiro” é considerado preconceituoso por fazer referência depreciativa a pessoas que levam seu próprio alimento em passeios turísticos, geralmente associado a viajantes de baixa renda. O episódio reacendeu discussões sobre preconceito de classe e ética no jornalismo.
Enquanto isso, na nave-mãe da Globo, o Show da Virada virou Show da Polêmica. Anitta, sempre ousada, trouxe para o palco um repertório recheado de palavrões. A emissora, que gosta de bancar a moralista em horário nobre, tratou de cortar os trechos mais “calientes”.
Durante a música Capa de Revista, a emissora chegou a silenciar partes da música por conta das palavras impróprias, mais precisamente no momento em que Anitta canta que vai “pagar b******”. Outras palavras censuradas pela emissora foram “p***”, “s***” e “piranha”. O corte do áudio aconteceu apenas na TV Globo, sinal aberto, já quem acompanhava o show pelo MultiShow, ouviu a música na íntegra.
Na rede social X, a hashtag #Globolixo chegou a ser um dos assuntos mais comentados no período da tarde nessa quarta-feira (1º), com muitas mensagens críticas contra a emissora carioca.
Com essas duas derrapas globais, o desastre de audiência e chuva de críticas, quem ganhou lugar ao sol foi o SBT. A rede, fundada pelo saudoso Sílvio Santos, marcou história na televisão brasileira ao transmitir pela primeira vez a virada do ano com programação religiosa.
O Vira Brasil 2025, realizado no Allianz Parque em São Paulo, reuniu milhares de pessoas na noite de Réveillon e conquistou expressiva audiência nacional com apresentação de Nadja Haddad e Yudi Tamashiro. O evento contou com 15 atrações entre pregadores e músicos gospel. A programação se estendeu além da meia-noite no Brasil, conectando-se com a versão americana do evento em Orlando, Flórida, que contou com apresentações dos pastores André Valadão e Deive Leonardo. A transmissão gerou forte engajamento nas redes sociais, com diversos internautas elogiando a qualidade técnica e parabenizando o canal pela iniciativa inédita.
A transmissão simultânea entre Brasil e Estados Unidos também evidenciou o alcance internacional do evento, que se consolida como a maior celebração cristã de Ano Novo do país, unindo fiéis dos dois países em uma programação focada em música gospel e mensagens de fé para 2025.
Se há algo que o réveillon televisivo nos ensinou é que a TV brasileira é como um grande buffet de Ano Novo: tem de tudo, desde a farofa do improviso até o caviar gospel. A Globo tropeçou nos próprios pés, a InterTV escorregou na areia das praias cariocas, e o SBT, quem diria, encontrou o caminho da redenção na madrugada.
Que venha 2025 com menos gafes e boas surpresas nas telas dos brasileiros.
E que assim seja, daqui pra frente!
(*) William Saliba é jornalista profissional há 54 anos e detentor de vários prêmios no setor da Comunicação