Por Natália Brito (*)
A arquitetura contemporânea vive uma revolução silenciosa e urgente: o resgate da relação entre o ser humano e a natureza. Sob o conceito da biofilia, projetos arquitetônicos integram elementos naturais ao design, buscando conectar os indivíduos ao mundo orgânico em meio ao caos das cidades. No Brasil, essa tendência ganha força com exemplos que não apenas encantam os olhos, mas também promovem saúde, bem-estar e sustentabilidade.
A biofilia, que em essência significa “amor à vida”, é mais do que uma estética verde. Ela parte da constatação científica de que a proximidade com a natureza tem impactos positivos na saúde mental, física e emocional das pessoas. Em um país onde mais de 85% da população vive em áreas urbanas, o desafio de trazer o verde para o concreto se torna uma necessidade. Arquitetos e urbanistas brasileiros estão explorando essa ideia em projetos que vão desde residências até espaços públicos, criando ambientes que dialoguem com o bioma local e as necessidades humanas.
Exemplos de obras nacionais mostram como a biofilia está sendo aplicada de forma criativa e impactante. Em São Paulo, o emblemático edifício Torre Verde, projetado por Triptyque Architecture, é uma referência. Revestido por plantas nativas, o prédio não apenas melhora a qualidade do ar ao redor, mas também reduz a temperatura interna, mostrando como a natureza pode ser uma aliada poderosa no enfrentamento das mudanças climáticas.
Outro destaque é o Sesc Avenida Paulista, também na capital paulista, que transforma sua cobertura em um verdadeiro jardim urbano. Com árvores frutíferas, bancos sombreados e uma vista privilegiada, o espaço convida os visitantes a desacelerar, promovendo uma pausa em meio à agitação da metrópole.
No Rio de Janeiro, o Museu do Amanhã, de Santiago Calatrava, também ecoa os princípios da biofilia. Embora seja mais reconhecido por sua arquitetura futurista, o projeto prioriza a sustentabilidade ao adotar sistemas que captam água da chuva e utilizam energia solar, criando um diálogo harmonioso entre o edifício e a Baía de Guanabara.
Mas a biofilia não precisa se restringir a grandes projetos. Escritórios de arquitetura menores têm adotado soluções criativas para residências e comércios, como jardins verticais, iluminação natural estratégica e o uso de materiais naturais como bambu e madeira de reuso. São movimentos que provam que o conceito pode ser acessível e replicável em diferentes escalas.
Apesar dos avanços, a biofilia na arquitetura brasileira ainda enfrenta desafios. A falta de políticas públicas que incentivem o uso de vegetação nos projetos urbanos é um entrave significativo. Além disso, a manutenção de estruturas vivas, como paredes vegetais, exige mão de obra especializada e um investimento contínuo que nem todos os proprietários estão dispostos a arcar.
Uma solução para difundir este conceito passa por educar profissionais e a sociedade sobre os benefícios dessa abordagem e convencer o setor público a adotar regulamentações que incentivem a presença de vegetação em projetos urbanos. Mais do que isso, é preciso que as cidades se transformem em ecossistemas vivos, onde o concreto e o verde coexistem em harmonia.
A biofilia nos lembra de algo essencial: somos parte da natureza, e não seus donos. Ao trazer o verde de volta às nossas vidas, a arquitetura não apenas cria espaços mais saudáveis, mas também redefine nossa conexão com o mundo ao nosso redor. Afinal, como diria o paisagista brasileiro Roberto Burle Marx, “o jardim é uma natureza organizada pelo homem e para o homem”. E, o que esperamos, é que essa civilização possa florescer de novo.