Por Alice Costa (*)
No segundo domingo de maio, as redes sociais se enchem de homenagens, flores, corações vermelhos e discursos emocionados sobre a força e o amor incondicional das mães. Tudo isso é bonito e merecido, claro. Mas confesso que, se eu pudesse dar um presente real, concreto e transformador para todas as mães, seria este: pais que assumem, de verdade, a parte que lhes cabe na criação dos filhos.
Ser mãe é incrível, mas também é exaustivo. E parte desse cansaço não vem apenas das noites mal dormidas ou das demandas da infância. Vem, principalmente, da sobrecarga mental, física e emocional que ainda recai quase que exclusivamente sobre as mulheres. Isso tem nome: chama-se economia do cuidado.
A economia do cuidado é a parte invisível da economia — aquela que não entra no PIB, mas que sustenta o funcionamento do mundo. É o tempo dedicado a preparar comida, cuidar da casa, acompanhar tarefa de escola, levar no médico, gerenciar agenda de vacina, prestar atenção nas emoções dos filhos, cuidar dos pais idosos. E adivinha quem ocupa, majoritariamente, esse papel? As mulheres. As mães.
Esse cuidado não remunerado limita escolhas. Muitas mulheres não conseguem aceitar uma promoção porque não têm com quem deixar os filhos. Outras abandonam seus sonhos profissionais porque o tempo que sobra não é suficiente para investir em si mesmas. Algumas chegam a abrir mão da própria saúde ou autonomia financeira, porque o “tempo de cuidar” virou sinônimo de tempo de viver.
E quando um pai diz que “ajuda”, é bom lembrar: pai que ajuda não é pai, é ajudante. E filho não precisa de ajudante, precisa de dois responsáveis comprometidos igualmente. A maternidade só será realmente celebrada quando ela não for mais sinônimo de renúncia.
Neste Dia das Mães, eu queria que, mais do que presentes, todas recebessem reconhecimento e divisão real de tarefas. Queria que mais empresas olhassem para a maternidade sem punição. Queria que a política pública entendesse o impacto gigantesco do cuidado nas desigualdades de gênero. Queria que os pais fossem, de fato, pais. Presentes. Atuantes. Conscientes.
Porque, no fundo, o maior presente que uma mãe pode ganhar é não precisar ser tudo sozinha.