Pesquisa divulgada, recentemente, pela Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT) revelou que a cada 10 serviços de radioterapia no Brasil, seis tiveram redução do número de pacientes oncológicos tratados durante a pandemia da Covid-19. Em alguns serviços esta redução superou os 50% dos casos novos. Uma das instituições que manteve estável o número de pacientes em tratamento de radioterapia foi o Hospital Márcio Cunha (HMC), em Ipatinga.
Referência para cerca de 1,3 milhão de habitantes de 67 municípios do Leste de Minas, a Unidade de Oncologia do HMC implantou diversas medidas para minimizar os impactos aos pacientes com câncer decorrentes da pandemia da Covid-19. Dentre estas medidas, o HMC instituiu como rotina a técnica de hipofracionamento da radioterapia, que utiliza altas doses por aplicação, reduzindo o número de sessões e, consequentemente, as visitas ao hospital para o tratamento.
Com a chegada da pandemia, diversos serviços médicos suspenderam o atendimento eletivo e os procedimentos de baixa complexidade, como medidas de contingenciamento da estrutura hospitalar para um aumento na demanda causada pela Covid-19. Porém, serviços essenciais como o tratamento do câncer se mantiveram em pleno funcionamento para garantir o atendimento dos pacientes. Assim, a Unidade de Oncologia do HMC, administrada pela Fundação São Francisco Xavier (FSFX), implantou uma série de medidas e protocolos de segurança que permitiram a manutenção deste atendimento.
“A instituição do ultra-hipofracionamento para o tratamento do câncer de mama foi uma das estratégias adotadas, pois há a preocupação com o distanciamento social e com a segurança do paciente, e o hipofracionamento reduz o tempo do tratamento, dessa forma, o número de visitas à unidade. Esta técnica foi amplamente avaliada em diversos protocolos de estudo no mundo e os resultados foram muito promissores, o que nos encorajou a promover o tratamento aqui no HMC”, comenta o radioterapeuta da Unidade de Oncologia do HMC e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Dr. Harley Francisco de Oliveira.
Antes da pandemia, no HMC, assim como em outros serviços do país, o hipofracionamento era utilizado de forma incipiente, não fazendo parte da rotina clínica. “A pandemia acelerou a instituição do ultra hipofracionamento para o câncer de mama, ou seja, implementamos um protocolo de radioterapia onde a mulher realiza seu tratamento em apenas uma semana, sendo que anteriormente realizávamos em 4 a 6 semanas. O ultra-hipofracionamento veio para proporcionar ao paciente algo ainda mais ágil. Outro ponto a ser destacado, é a utilização tanto para pacientes do SUS quanto convênios. Sabemos que muitos pacientes que tratam aqui no HMC residem em cidades distantes de Ipatinga e reduzir o número de viagens, em período onde os pacientes estão mais debilitados devido a doença e ao tratamento, certamente traz mais conforto e melhor qualidade de vida a eles.”, explica Harley.
Dr. Harley reforça, ainda, que a técnica equivale ao tratamento padrão. “Trata-se da diminuição do tempo de tratamento, porém com equivalência terapêutica, ou seja, um tratamento com a mesma eficácia e mais eficiente. Isso é feito com análises biológicas e cálculos físicos para garantir esta equivalência ao tratamento padrão”.
Uma das beneficiadas com a técnica do ultra-hipofracionamento, é a paciente Tânia Maria Oppe Vieira Santana, residente em Teófilo Otoni, município 300 km distante de Ipatinga. “Foi muito gratificante realizar apenas cinco sessões de radioterapia e não 18, como o previsto inicialmente. Como resido em outra cidade, este tratamento me beneficiou em todos os aspectos, desde o emocional até o físico. Fiquei imensamente feliz, pois hoje estou muito bem, recuperada e, sem sinais na mama”.
Na Unidade de Oncologia do HMC, a técnica beneficiou, até o momento, mais de 50 pacientes com diagnóstico de câncer de mama. “O impacto da radioterapia em um tempo mais curto beneficia todos os pacientes, por agilizar o tratamento e permitir que mais pessoas sejam tratadas pelo serviço”, comenta Carmem Célia Negreli Feliciano, coordenadora da Unidade de Oncologia do HMC.
“Só tenho a agradecer a Fundação São Francisco Xavier, desde o primeiro atendimento, na internação hospitalar e em todas as fases do meu tratamento. Hoje estou bem, recuperada e extremamente feliz de ter cumprido essa etapa, de uma forma mais rápida. Muito gratificante ser beneficiada por essa inovação”, conclui Tânia.