Por William Saliba (*)
Imagine um reino chamado Brasil, onde tudo é maravilhoso, as colheitas prosperam, os cofres transbordam, e os súditos dançam felizes ao som de um samba harmonioso. Esse é o Brasil que Sua Majestade Luiz Inácio Lula da Silva descreve com o fervor de um poeta inspirado. Mas, na prática, será que existe algum portal mágico que nos leva a esse paraíso? Ou é só uma boa ficção de sua assessoria?
Nesta quinta-feira (5/12), em um evento oficial, o presidente soltou uma daquelas pérolas que nos fazem duvidar se estamos mesmo acordados. Ele comemorou, vejam só, o apoio de “10% do setor agropecuário” no Mato Grosso do Sul. Para quem mal tinha 0% na campanha eleitoral, até que é um avanço.
O curioso é que 10% é um número que, em uma redação jornalística, poderia ser tratado como margem de erro. Mas, no universo lulista do consórcio da grande imprensa brasileira, virou motivo de festa.
Agora, cá entre nós, quem está iludindo quem aqui? Parece que Lula vive em um castelo de cristal, blindado contra a realidade. Sua popularidade despenca, o mercado financeiro faz cara feia, mas ele segue firme, celebrando números que mais parecem resultados de enquetes de bar.
Outro momento digno de Oscar no evento de hoje foi quando Lula, ao criticar seu antecessor, declarou que recebeu o Brasil “semidestruído”. É claro que sempre é bom apontar o dedo para trás, afinal, heróis precisam de vilões, e a narrativa da reconstrução fica mais épica dessa forma.
A cereja do bolo veio quando ele mencionou o crescimento do PIB: 3% projetados para 2024, superando as expectativas do FMI e dos analistas. Aqui, até os economistas mais sérios ficaram com uma sobrancelha levantada. É um dado que deveria animar, mas o mercado financeiro, que parece ingrato com sua majestade, só fala em “percepções negativas”.
A sua conselheira real Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, tentou botar ordem na bagunça. Com a eloquência de quem já perdeu a paciência, ela chamou o mercado de “parcial e prejudicial”. E fez um apelo tocante: o “verdadeiro mercado” são os agricultores familiares, comerciantes e servidores.
Sua majestade Lula da Silva também relembrou sua iniciativa de convocar governadores e prefeitos para o Novo PAC. Em uma espécie de “feirão do progresso”, quando cada um foi convidado a apresentar suas demandas.
Ele assegurou que as prioridades são de todos, independentemente de partido. Bonito, não? Mas, no Brasil real, sabemos que esses pactos costumam virar um “troca-troca” de favores, onde o critério principal é agradar a base eleitoral.
Com um discurso inflamado, Lula ainda lançou farpas contra os governos anteriores. Acusou-os de lembrar da população mais pobre apenas em períodos eleitorais. Bem, o que dizer? É um comentário bastante ousado vindo de alguém que tem décadas de prática em misturar populismo e pragmatismo com maestria.
A pergunta que fica no ar, após tantas declarações estonteantes, é: onde está esse Brasil que só eles enxergam? Deve ser um lugar tão fascinante que dá vontade de organizar excursões.
Enquanto isso, aqui no Brasil dos mortais, seguimos tentando entender a lógica de um governo que pinta o país como um mosaico de conquistas, enquanto os números de rejeição quebram recordes. Talvez seja hora de abrir uma escola de otimismo político, porque, convenhamos, a população precisa de aulas para acreditar nesse conto de fadas.
E assim seguimos, caros leitores, entre declarações grandiosas, realidades paralelas e uma cortina de fumaça que tenta esconder a economia real. Quem sabe, um dia, Lula não nos apresenta no GPS, aonde encontrar esse Brasil encantado?
Até lá, fiquemos com nossa humilde realidade e as ironias da vida.
(*) William Saliba, diretor do Carta de Notícias, é jornalista há 55 anos e detentor de vários prêmios no setor da Comunicação.