Um terço do território brasileiro já não existe mais em sua forma natural. Essa é a alarmante conclusão de um estudo divulgado pelo MapBiomas nesta quarta-feira (21). O levantamento revela que 33% das áreas originais do país foram desmatadas, com uma aceleração significativa nas últimas quatro décadas.
Desde 1985, quando o monitoramento sistemático começou, o Brasil perdeu 13% adicionais de sua vegetação nativa, o equivalente a 110 milhões de hectares. Essa perda recente é quase tão extensa quanto toda a devastação ocorrida desde a chegada dos portugueses em 1500 até meados da década de 1980, que totalizava cerca de 20% do território.
O impacto dessa transformação é profundo e preocupante. Especialistas alertam que a redução dos biomas brasileiros pode afetar severamente o clima regional e diminuir a capacidade do país de enfrentar eventos climáticos extremos. Em 1985, 76% do território brasileiro era coberto por vegetação nativa. Hoje, esse número caiu para 64,5%.
As áreas mais afetadas pelo desmatamento são a Amazônia e o Cerrado. A floresta amazônica perdeu 55 milhões de hectares desde 1985, uma redução de 14%. Atualmente, 81% do território amazônico ainda é coberto por florestas e vegetação nativa, mas esse percentual se aproxima perigosamente do ponto de não retorno estimado pelos cientistas. O Cerrado, por sua vez, viu 38 milhões de hectares serem destruídos, representando uma queda de 27%.
A expansão da agropecuária é apontada como a principal causa desse cenário. Desde 1985, a área destinada à pastagem cresceu 79%, enquanto a agricultura aumentou impressionantes 228%. Esse avanço foi mais acentuado em estados como Rondônia, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins. Em 1985, 48% dos municípios eram dominados pela agropecuária; em 2023, esse número subiu para 60%.
Apesar do quadro desanimador, há sinais de esperança. O Rio de Janeiro foi o único estado a apresentar um leve aumento na vegetação nativa, passando de 30% para 32% do seu território. Além disso, desde a criação do Fundo Amazônia em 2008 e a implementação de novas regras no Código Florestal, alguns municípios conseguiram estabilizar ou até aumentar suas áreas de vegetação nativa. A Mata Atlântica, por exemplo, viu um crescimento na vegetação em 56% dos seus municípios.
O coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, destaca que, embora parte dos municípios brasileiros continue a perder vegetação, quase um terço está conseguindo recuperar áreas naturais. Isso indica que, com políticas públicas adequadas e esforços concentrados, é possível reverter parte do dano ambiental causado nas últimas décadas.
Para garantir a preservação dos biomas brasileiros e a sustentabilidade ambiental, especialistas apontam a necessidade de ações imediatas e firmes. Entre as medidas sugeridas estão a implementação e o fortalecimento de políticas públicas de conservação, o incentivo ao reflorestamento e à recuperação de áreas degradadas, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis e uma fiscalização mais rigorosa com aplicação efetiva das leis ambientais.
O futuro das florestas e das áreas naturais brasileiras depende das decisões tomadas agora. O desafio é encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, garantindo que as gerações futuras possam desfrutar da rica biodiversidade que sempre caracterizou o Brasil. A recuperação da vegetação nativa em estados como Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo mostra que é possível conciliar progresso e conservação, desde que haja vontade política e engajamento da sociedade.