Por Natália Brito
A arquitetura tem a capacidade única de transformar espaços, influenciar comportamentos e criar atmosferas que, em muitos casos, impactam diretamente a saúde e o bem-estar das pessoas. Em novembro, mês dedicado à conscientização sobre a saúde masculina com foco na prevenção e tratamento do câncer de próstata, o debate sobre a humanização de espaços clínicos e hospitalares ganha ainda mais relevância.
Não se trata apenas de técnicas médicas ou avanços científicos; o ambiente em que as pessoas são acolhidas para tratamento e prevenção também desempenha um papel fundamental no processo de cura.
Nas últimas décadas, a humanização dos espaços de saúde tornou-se essencial na arquitetura hospitalar. O objetivo é criar ambientes que ofereçam conforto e bem-estar a pacientes, familiares e profissionais. No Brasil, João Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé, foi pioneiro ao revolucionar a arquitetura hospitalar com projetos inovadores, sendo a Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação seu maior exemplo de sucesso.
Os hospitais da Rede Sarah são conhecidos por sua concepção diferenciada. Lelé projetou espaços com amplos pátios, corredores abertos e integração ao verde, ao invés de ambientes fechados e sem contato com a natureza. Ele estava à frente da tendência de “healing architecture” (arquitetura da cura), que defende que o ambiente construído pode influenciar diretamente o processo de recuperação. Com foco em climatização natural, iluminação e materiais adequados, Lelé criou hospitais que não só otimizam o trabalho dos profissionais de saúde, mas também proporcionam conforto e acolhimento aos pacientes.
No contexto do Novembro Azul, que reforça a importância da saúde masculina, a abordagem de Lelé se destaca. Ela demonstra como o ambiente físico pode ser um fator determinante na adesão ao tratamento e na melhora emocional dos pacientes. A arquitetura humanizada nas clínicas e hospitais não só cria espaços funcionais, mas também acolhedores, contribuindo para a qualidade do atendimento.
Além de hospitais, o conceito de humanização também está sendo cada vez mais adotado por clínicas e consultórios médicos. Uma clínica moderna deve transmitir segurança e serenidade aos pacientes. Elementos como luz natural, ventilação adequada, mobiliário ergonômico e áreas de espera confortáveis ajudam a aliviar a ansiedade que muitas vezes acompanha visitas médicas, especialmente no caso de exames preventivos, como os do câncer de próstata.
Pesquisas mostram que homens tendem a evitar consultas médicas com mais frequência do que as mulheres, muitas vezes por medo ou desconforto com o ambiente clínico. Nesse contexto, a arquitetura pode ser uma ferramenta poderosa para quebrar essa barreira. Espaços agradáveis, com arte, música suave e cores tranquilizadoras, tornam a experiência menos intimidadora, facilitando o acesso ao cuidado preventivo. Áreas de interação social, como cafeterias e jardins internos, também ajudam a afastar a ideia de que o hospital é um lugar puramente de dor e sofrimento.
Se olharmos para os hospitais da Rede Sarah, veremos que Lelé aplicou esses conceitos de maneira visionária. Seus edifícios priorizam a relação entre o espaço interno e externo, permitindo que o paciente se sinta parte de um ambiente dinâmico e acolhedor. A integração com a vegetação, o uso de luz natural e o design que facilita a mobilidade dos pacientes tornaram a Rede Sarah um modelo global de arquitetura hospitalar humanizada.
Essa preocupação com o bem-estar não é apenas estética. Estudos mostram que ambientes físicos adequados reduzem o estresse, aceleram a recuperação e até diminuem a necessidade de medicação. A arquitetura de Lelé exemplifica como esses fatores podem ser incorporados no design hospitalar para elevar o padrão de atendimento.
A arquitetura, nesse sentido, torna-se uma aliada dos pacientes e também dos profissionais de saúde. A visão de Lelé, aplicada na Rede Sarah, mostra que a humanização dos espaços é não só possível, mas necessária para clínicas e hospitais. À medida que os cuidados com a saúde ganham mais atenção, o design desses ambientes deve continuar a seguir essa tendência de acolhimento e bem-estar.
Arquitetura, saúde e bem-estar estão profundamente interligados. O legado de Lelé nos lembra que o espaço onde nos tratamos é tão importante quanto o próprio tratamento. O desafio para os arquitetos de hoje é dar continuidade a essa trajetória, projetando ambientes que não apenas curem o corpo, mas também confortem a mente, redefinindo o conceito de humanização nos cuidados de saúde.
Natália Brito é arquiteta e professora mestre, com 15 anos de experiência na área de projetos e 12 anos dedicados à educação. Ela possui a Formação DAP (Desenvolvimento Avançado de Projetos) e é cofundadora da Arqcalc, uma startup de Precificação de Projetos. Através de plataformas digitais, mentora milhares de profissionais da Arquitetura e Design, ajudando-os a aprimorar suas práticas e gestão.