A casa própria, um dos maiores sonhos dos brasileiros, está se transformando em um pesadelo para milhares de famílias. Em 2024, os leilões de imóveis dispararam, registrando um aumento de 80% no número de propriedades retomadas por inadimplência. Se em 2018 havia cerca de 200 imóveis por edital de leilão, hoje o número varia entre 800 e 1.000 por mês.
O processo é implacável. Após 15 dias de atraso no pagamento, o imóvel pode ser consolidado no nome do banco, e em até seis meses, ele vai a leilão. E não são apenas imóveis de luxo: casas do programa Minha Casa Minha Vida também estão sendo retomadas. A lei 8.009/90, que protege imóveis residenciais contra penhora, não se aplica quando há financiamento ou hipoteca.
Em números absolutos, o cenário é devastador. Em 2022, 9 mil imóveis foram leiloados. Em 2023, esse número saltou para 26 mil, e apenas no primeiro semestre de 2024, já ultrapassou 44 mil. São histórias de famílias que perderam tudo, incapazes de lidar com parcelas infladas pela alta dos juros e pela indexação ao IPCA ou à Taxa Selic, que seguem em patamares elevados.
Especialistas apontam que a crise atual é um reflexo tardio da pandemia, quando financiamentos foram suspensos temporariamente, mas as parcelas retornaram corrigidas. Muitos não conseguiram se reequilibrar financeiramente, enfrentando ainda os efeitos da inflação e da desvalorização do poder de compra.
Para investidores, os leilões representam uma oportunidade. Os descontos podem chegar a 40%, mas os riscos são elevados. Muitos imóveis estão ocupados, exigindo custos judiciais para despejo. Há também dívidas de IPTU, condomínio e possíveis reformas, além da comissão do leiloeiro, que é paga pelo comprador.
A aposta nos leilões é válida? Depende. É preciso calcular cada detalhe e entender que o barato pode sair caro. Comprar um imóvel em leilão exige conhecimento, paciência e fôlego financeiro para lidar com as adversidades.
Enquanto isso, milhares de famílias vivem a angústia de perder seus lares. A crise imobiliária é um lembrete brutal da instabilidade econômica brasileira e da necessidade de planejamento financeiro sólido antes de assumir compromissos de longo prazo.
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