Por William Saliba (*)
O jogo geopolítico na América Latina trocou o tabuleiro sofisticado do xadrez pelas quedas previsíveis do dominó. Enquanto as peças vão caindo, resta ao Brasil observar as consequências. Com “pouca papa na língua” e muito no prato de polêmicas, Lula segue complicando o Brasil no cenário internacional.
Desta vez, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, parece ter decidido ignorar o país vizinho em sua cerimônia de posse, prevista para a próxima sexta-feira (10). A ausência de um convite formal, confirmada pelo Itamaraty à CNN Brasil nesta segunda-feira (6/1), é um novo sintoma do desgaste na relação entre Brasília e Caracas.
O esfriamento começou com as eleições venezuelanas de julho passado, quando o Brasil condicionou o reconhecimento da vitória de Maduro à apresentação das atas eleitorais – um documento que nunca apareceu, talvez guardado no mesmo cofre que a transparência democrática do regime. Desde então, os dois líderes parecem ter trocado o diálogo direto por um silêncio ensurdecedor.
O clima azedou ainda mais em novembro, quando o Brasil vetou a entrada da Venezuela no seleto grupo dos Brics. A decisão foi vista como um xeque-mate brasileiro, mas Maduro, aparentemente, preferiu abandonar o tabuleiro e começar a montar suas próprias peças de dominó.
Agora, mesmo sem diálogo direto, o Brasil ainda cogita enviar sua representante oficial, a embaixadora Glivânia de Oliveira, caso o convite de última hora apareça – talvez por fax ou pombo-correio, dada a comunicação atual.
Enquanto isso, a diplomacia brasileira parece se equilibrar na corda bamba das contradições. Lula, que não perde uma oportunidade de criar novas polêmicas, já chamou Trump de “nazista”, arriscou alianças ao rifar o Brasil para a China, abraçou grupos terroristas como Hamas e Hezbollah, e ainda deu “cobertura moral” à prisão de um soldado palestino em férias no Nordeste. Em uma política externa que mais parece uma sucessão de apostas erráticas, não surpreende até mesmo o distanciamento de última hora do ditador venezuelano.
A ausência de comunicação oficial para a posse de Maduro é mais do que uma simples gafe diplomática. É a peça mais recente em um jogo de dominó que Lula parece determinado a perder.
O silêncio venezuelano em relação ao convite representa mais um capítulo na complexa relação entre os dois países, que já foram parceiros próximos durante governos anteriores. A ausência de comunicação oficial evidencia o momento delicado nas relações bilaterais, marcado por divergências políticas e questionamentos sobre o processo democrático venezuelano.
E as peças do dominó vão caindo… uma a uma.
(*) William Saliba é jornalista profissional há 54 anos, diretor do Carta de Notícias e detentor de várias premiações no setor da Comunicação