Em uma escalada sem precedentes, o Brasil registrou um aumento de 25% no número de pessoas em situação de rua em 2024, chegando a 327.925 pessoas, segundo dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O cenário atual revela uma realidade 14 vezes maior do que há onze anos, quando apenas 22.922 pessoas viviam nas ruas do país. A região Sudeste concentra 63% dessa população, com São Paulo liderando as estatísticas: são 139.799 pessoas sem moradia, representando 43% do total nacional.
Os números alarmantes foram obtidos através do Cadastro Único de Programas Sociais, ferramenta essencial para mapear beneficiários de programas como Bolsa Família e BPC. Após São Paulo, os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais apresentam as maiores concentrações, com 30.801 e 30.244 pessoas respectivamente.
O perfil educacional dessa população expõe uma vulnerabilidade adicional: 70% não concluíram o ensino fundamental e 11% são analfabetos, o que dificulta significativamente o acesso ao mercado de trabalho. André Luiz Freitas Dias, coordenador do Observatório, atribui esse crescimento à ausência de políticas públicas estruturantes nas áreas de moradia, trabalho e educação.
Durante entrevista à Agência Brasil, um contraste particular e preocupante foi apontado por Robson César Correia de Mendonça, do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo. Segundo ele, só na capital paulista existem 590 mil imóveis particulares vazios, número que ultrapassa em muito as 92.556 pessoas que vivem nas ruas da cidade.
A disparidade entre moradias vazias e pessoas sem teto evidencia uma questão mais profunda: a falta de vontade política para solucionar o problema. A transformação desses imóveis ociosos em habitações populares poderia representar uma solução mais econômica e eficiente do que os gastos atuais com albergues e medidas paliativas.