No dia seguinte à sua eleição, o Papa Leão XIV presidiu na manhã desta sexta-feira (9) à sua primeira Missa como pontífice na Capela Sistina, reunindo os membros do Colégio Cardinalício. A celebração marcou o início oficial de seu ministério e foi marcada por um apelo à unidade e ao testemunho da fé cristã frente aos desafios do mundo contemporâneo.
Logo no início da homilia, o novo Papa saudou os cardeais em inglês, evocando o Salmo do dia: “Cantarei um cântico novo ao Senhor, porque ele fez maravilhas.” Em seguida, exortou os presentes a refletirem sobre as graças recebidas por meio do ministério petrino.
— O Senhor me chamou para carregar essa cruz e realizar essa missão, e sei que posso contar com cada um de vocês para caminhar comigo — afirmou Leão XIV, destacando a importância da comunhão no exercício da missão evangelizadora da Igreja.
A partir do texto evangélico de Mateus, capítulo 16 — no qual Simão Pedro reconhece Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo —, o Papa ressaltou que essa é a essência do patrimônio de fé que a Igreja preserva e transmite há dois milênios, por meio da sucessão apostólica. “Jesus é o único Salvador e o revelador da face do Pai”, disse.
Durante a homilia, o pontífice citou o documento Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, lembrando que o Filho de Deus se revela até mesmo através do olhar simples de uma criança. Ao assumir a missão petrina, Leão XIV afirmou que esse tesouro da fé agora lhe é confiado como “fiel administrador a favor de todo o Corpo místico da Igreja”, descrevendo a Igreja como “arca de salvação” e “farol que ilumina as noites do mundo”.
O novo Papa também alertou para os riscos de uma fé diluída ou marginalizada na sociedade atual. Ao refletir sobre a pergunta feita por Jesus no Evangelho — “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” —, apontou que muitas pessoas ainda veem Cristo apenas como um homem sábio ou líder carismático, mas não reconhecem sua divindade.
— Também hoje, não são poucos os contextos em que a fé cristã é considerada algo absurdo, destinado a pessoas débeis e pouco inteligentes — advertiu. Segundo ele, essa visão limitada, comum mesmo entre batizados, contribui para o avanço de um “ateísmo prático” em que se vive como se Deus não existisse.
Leão XIV mencionou ainda os ambientes hostis à fé, onde quem crê é alvo de escárnio ou desprezo. Nesses contextos, defendeu, a missão da Igreja torna-se ainda mais urgente, especialmente diante das consequências da ausência de fé, como o esvaziamento do sentido da vida, a fragilização das famílias e a perda da dignidade humana.
Nos momentos finais da homilia, o Papa evocou Santo Inácio de Antioquia, citando sua frase ao encaminhar-se ao martírio: “Então serei verdadeiro discípulo de Jesus, quando o meu corpo for subtraído à vista do mundo.” O Papa associou essa imagem ao papel de quem exerce autoridade na Igreja: “desaparecer para que Cristo permaneça”.
— Que Deus me dê esta graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria, Mãe da Igreja — concluiu.
A Missa desta manhã foi o primeiro ato litúrgico público do pontificado de Leão XIV, que assume a liderança da Igreja Católica com o compromisso de continuidade e renovação, diante de um cenário global complexo e desafiador.