Por Natália Brito (*)
Às vésperas do feriado nacional de 21 de abril, o nome Tiradentes volta ao centro das atenções. Mais do que lembrar a figura histórica de Joaquim José da Silva Xavier, é também uma oportunidade de voltar os olhos para a cidade mineira que carrega seu nome — e que preserva, em cada esquina, uma parte essencial da memória arquitetônica brasileira.
Localizada na região do Campo das Vertentes, Tiradentes é reconhecida por seu conjunto urbano do período colonial, com casario branco, janelas de madeira, igrejas barrocas e ruas calçadas com pedras. Fundada no início do século XVIII como Arraial de Santo Antônio, a cidade preserva a estrutura original do ciclo do ouro e se transformou, ao longo dos anos, em um dos destinos mais procurados do país por quem busca história, cultura e beleza.
A conservação desse conjunto não é fruto do acaso. Desde o tombamento da cidade pelo IPHAN, em 1938, iniciativas públicas e privadas têm buscado manter a integridade do patrimônio, respeitando as características originais das construções. Ao caminhar pelas ruas de Tiradentes, é possível perceber que ali o tempo não parou — mas foi tratado com cuidado.
Preservar uma cidade histórica não significa transformá-la em um museu a céu aberto. Tiradentes continua viva: recebe turistas, realiza festivais de gastronomia e cultura, abriga pousadas e ateliês, e oferece experiências autênticas. O desafio está justamente no equilíbrio entre a preservação e o uso cotidiano dos espaços. Reformas mal orientadas, excesso de comércio ou intervenções visuais inadequadas podem comprometer não apenas a estética, mas o sentido histórico do lugar.
A arquitetura colonial de Tiradentes tem valor não apenas pelo que representa visualmente, mas pelo que ela nos conta: sobre técnicas construtivas, sobre modos de vida do passado, sobre criatividade diante da escassez de recursos. Conhecer e valorizar esse patrimônio é uma forma de reconhecer que o Brasil possui uma identidade arquitetônica própria, construída ao longo dos séculos.
Esse tipo de reflexão é especialmente relevante em datas comemorativas, quando o simbolismo da história ganha visibilidade. Mais do que celebrar figuras do passado, é necessário olhar para os legados que permaneceram — e compreender que eles dependem, hoje, do nosso compromisso em mantê-los.
Ao visitar Tiradentes neste feriado ou ao apenas se lembrar dela, o convite é claro: observar com atenção o que a arquitetura pode nos ensinar. Em tempos em que tudo parece efêmero, cidades como essa nos lembram que a permanência, quando bem cuidada, também é uma forma de progresso.