Por Edmundo Polck Fraga (*)
Certa vez, enquanto trabalhava na Usiminas na área de suprimentos e logística, fiquei surpreso ao inspecionar uma estrutura metálica fornecida por uma empresa de caldeiraria sediada em São Paulo. Imediatamente, uma pergunta surgiu em minha mente: por que esse sobressalente não estava sendo produzido aqui no Vale do Aço, por empresas do setor metalmecânico local?
Minha curiosidade aumentou ainda mais ao notar que, na parte interna da estrutura, estava estampada a identificação da “Usiminas”. Ou seja, a chapa de aço fora produzida em Ipatinga, transportada para São Paulo, adquirida e transformada em sobressalente por uma empresa paulista, e entregue novamente à Usiminas para ser instalada em seu parque fabril, agora com todos os impostos e custos logísticos embutidos.
Esse episódio me fez refletir sobre as dezenas de empresas que investiram acreditando no potencial do Vale do Aço e que, com o tempo, deixaram de existir. Empresas como Gerbrasa, Mecalusi, Mecminas, Mecânica Globo, Macan, Mecbras, Indupef, Usipal, Viga Caldeiraria, Usange, Uzirol e Roselmira são apenas alguns exemplos de uma lista que continua crescendo. Cada uma teve seus motivos para encerrar as atividades, mas a questão essencial que permanece é: o que os poderes constituídos fizeram para evitar essas perdas?
Parafraseando Martin Luther King Jr.: “Se não podemos voar, corramos. Se não podemos correr, caminhemos. E se não pudermos caminhar, rastejemos. De qualquer modo, sigamos em frente.” Essa reflexão é um convite à ação. Temos muitos questionamentos sobre o que deixou de ser feito, mas também temos a oportunidade de corrigir os rumos e agir para mudar essa realidade.
Os poderes municipais, estaduais e as entidades de classe precisam compreender profundamente os desafios do nosso parque industrial metalmecânico. Conhecer as dificuldades é o primeiro passo para encontrar soluções efetivas. Além disso, é fundamental criar incentivos para atrair novos empreendimentos que possam se beneficiar dos ricos subprodutos gerados por Usiminas, Cenibra, Aperam, Gerdau e ArcelorMittal, que saem daqui diariamente para produzir riquezas em outras regiões, ignorando o potencial da economia local.
As oportunidades são vastas. Poderíamos fomentar a implantação de centenas de empresas em segmentos diversos, desde a fabricação de vernizes, asfalto, tintas e utensílios domésticos, equipamentos hospitalares, estrutura naval e, por que não, equipamentos bélicos. Além disso, é essencial incentivar parcerias e pesquisas em instituições como Unileste, CEFET e Instituto Tecnológico de Minas Gerais, estimulando nossos jovens a se engajarem no desenvolvimento industrial da região.
Como bem disse Jorge Paulo Lemann: “Sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho.” O Vale do Aço tem potencial para muito mais.
O momento de agir é agora.
(*) Edmundo Polck Fraga é empresário do ramo de imóveis, fundador e ex-presidente do Kart Clube de Ipatinga