Por Edmundo Polck Fraga (*)
O rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em novembro de 2015, foi mais do que um desastre ambiental. Foi uma ferida aberta na história do Brasil, marcada pela maior tragédia ambiental, social e econômica já registrada no país — e uma das maiores do mundo. O que deveria ter sido apenas mais uma tarde comum para os moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), transformou-se em um cenário de horror. De repente, 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos minerais se converteram em uma onda gigante e avassaladora, destruindo tudo pelo caminho.
A lama não poupou nada nem ninguém. Tudo o que respirava, tudo o que carregava memórias e afetos de séculos de história foi impiedosamente varrido do mapa. O passado e o presente foram aniquilados em um instante. No rastro da destruição, corpos foram encontrados despedaçados, enquanto árvores, animais, igrejas, casas e até túmulos eram arrastados sem piedade.
As marcas da tragédia se estenderam por 663 quilômetros, desde Bento Rodrigues até o mar, atravessando Minas Gerais e o Espírito Santo. O Rio Doce, além de palco do desastre, tornou-se uma de suas incontáveis vítimas.
E como se toda essa devastação não fosse suficiente, os sobreviventes ainda convivem com a dor de saber que essa catástrofe não foi um acaso, mas uma tragédia anunciada. O colapso da barragem não foi um capricho do destino, mas o resultado de negligências e falhas humanas acumuladas ao longo dos anos.
Não, não foi uma fatalidade. O desastre do Rio Doce foi um grito ignorado por aqueles que poderiam ter evitado sua ocorrência. E, enquanto a justiça e a reparação ainda caminham a passos lentos, as vítimas seguem fatiando, dia após dia, uma dor que parece não ter fim.
Na sexta-feira (6), pelo menos 21 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo aderiram ao acordo de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem.
O teor do acordo entre prefeituras e a mineradora Samarco foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro de 2024, com o prazo final para adesão se encerrando na última quinta-feira (6). Essa repactuação, repleta de questionamentos, teve início com a criação da Fundação Renova para executar e planejar as ações, mas a entidade acabou sendo descontinuada.
Para enfrentar esse problema complexo com soluções aparentemente simples, foi definida a seguinte distribuição dos R$ 170 bilhões acordados: R$ 100 bilhões serão rateados entre a União, os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e os municípios que aderirem ao pacto. Outros R$ 32 bilhões foram reservados para a recuperação de áreas degradadas, remoção de sedimentos, reassentamento de comunidades e pagamento de indenizações a pessoas atingidas. O restante — R$ 38 bilhões — será destinado a ações de reparação de danos.
Apesar de nove prefeitos terem decidido não aderir ao acordo, 37 municípios permanecem firmes e resilientes, confiantes nos desdobramentos da ação impetrada na Inglaterra. A esperança é que, finalmente, a justiça alcance aqueles que perderam tudo e ainda aguardam por reparação real e efetiva.