Por Walter Biancardine (*)
Se há uma característica deprimente na propaganda de hoje é o fato de serem produzidos comerciais e anúncios em uma só central, a partir da qual serão veiculados para o resto do mundo. Ainda que isto signifique o fim dos talentos de cada país – em particular os do Brasil, premiados internacionalmente décadas atrás – e o sepultamento de características e valores típicos dos mesmos, cabe deixar tal fato de lado e abordarmos diretamente o momento agônico que a indústria automobilística internacional atravessa, com especial destaque para a Jaguar e seu inominável anúncio, veiculado nos últimos dias.
Alivia-me o fato de ser eu um analista político que se expressa via texto, assim não vejo-me obrigado a reproduzir tal e tétrica peça publicitária, que mais se assemelha a anúncios de boutiques, perfumes ou grifes de roupas famosas – é um comercial de uma fábrica de automóveis no qual nem um sequer é mostrado, até porque a decadente Jaguar não tem em produção, atualmente, nenhum modelo. Sim, é uma situação onde um pintor Bosch estaria gerindo a fábrica, com comerciais produzidos por Salvador Dali.
Tal situação decadente desta outrora gloriosa marca arrasta-se desde os idos onde foi comprada pela norte americana Ford, logo depois vendida para a indiana Tata, que a fundiu com a também britânica Land Rover – e deu no que deu: ao que parece, a vingança hindu contra os anos de domínio britânico está consumada.
Tais descaminhos, ao que parece, não acontecem apenas nos domínios do hoje afeminado felino: em sua quase totalidade, as grandes fábricas de automóveis dedicam-se atualmente a produzirem conceitos, não automóveis. Fabricam vídeo games, não meios de transportes que proporcionem emoção, prazer e luxo.
Quando digo que produzem conceitos, basta que o leitor se lembre da ínfima quantidade de sedans à venda, atualmente. Nas Américas, o grosso da produção se resume a esportivos, que mais se assemelham a carros de competição em Le Mans, e às indefectíveis pick-ups e SUV’s. Onde estão os carros para a família? As station wagons, os sedans ou mesmo coupês que fujam ao minimalismo dos três volumes?
Na Europa, marcas prestigiadas como a BMW, Audi ou Mercedes ainda insistem em produzir sedans, mas em escalas cada vez menores e diretamente apelativos ao chamamento esportivo – suspensões sempre mais rígidas, suavidade de rodagem zero e totalmente discriminatório ao proprietário que conte com mais de 50 anos de idade, eis que os estilos estão dia a dia mais similares aos brinquedos Play Mobil.
Nos Estados Unidos, tal crise de identidade atingiu o paroxismo, com a Cadillac – subsidiária GM famosa por seus sedans e coupés de alto luxo – simplesmente deixando de oferecer as alternativas tradicionais e concentrando-se em SUV’s.
Podemos e devemos somar tais e deprimentes fatores com a enorme pressão de grupos globalistas para a plena adoção do carro elétrico, onde o processo de emasculação de automóveis e homens se completará: teremos carros sem barulho, que se conduzem e estacionam sem a interferência do “motorista” (vaga lembrança, onde sequer a carta de habilitação será mais necessária) e que oferecerão aos seus passageiros poderosa central multimídia com games, Netflix, GPS, música, redes sociais e tudo o mais que possa entorpecê-los e fazer com que, sequer, olhem a paisagem das janelas – as quais, certamente, serão cobertas por oportunas cortinas para nossa maior privacidade.
Este é o verdadeiro “mundo ideal”, preconizado pelo infame e assustador comercial da Jaguar. Nada que lembre a brutalidade máscula de automóveis, seu cheiro de gasolina, graxa e a habilidade em conduzi-los, que um dia orgulhou nossos pais.
Não se vende automóveis como vendemos liquidificadores: é necessário o apelo à emoção, à sensação de realização e poder em possuí-los e exibi-los, mas a Jaguar – bem como as demais fábricas, envergonhadas em produzir carros – pretende nos vender “conceitos”, empurrar garganta abaixo as diretrizes “woke” que eliminam homens e, portanto, ameaças ao seu domínio.
Mas para aqueles desavisados que aplaudiram tal peça publicitária – que exibe cada uma das raças humanas do planeta, todas e quaisquer escolhas sexuais e os mais diversos penteados – lembro que não há um só gordo em tal anúncio. Seria a Jaguar uma “gordofóbica”?
Pois é, caros adeptos “woke”: quem quer agradar a todos, não agrada a ninguém.
Saudades de um bom e velho Chevrolet Impala…