Por Ricardo Ramos (*)
O longa de Natal Mary, que chegará à plataforma de streaming em 6 de dezembro, conta com a atriz israelense Noa Cohen como a protagonista, enquanto o também israelense Ido Tako interpretará José. Mas desde o lançamento do trailer, o filme virou alvo de críticas nas redes sociais pelo elenco.
A controvérsia recente envolvendo a escolha de atores israelenses para o filme da Netflix reacendeu debates sobre a identidade étnica e geográfica de figuras bíblicas como Maria e José. A discussão é complexa, refletindo a intersecção de história, religião e política na região da Palestina, onde esses personagens viveram. Este artigo explora a origem de Maria e José, enfatizando sua herança israelense e sua localização geográfica na Palestina.
CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
Maria e José viveram na Palestina durante o domínio romano, uma região marcada por tensões políticas e sociais. Geograficamente, eles eram palestinos, pois residiam em Nazaré e Belém, cidades situadas na atual Israel e na Cisjordânia. No entanto, essa designação geográfica não deve obscurecer suas identidades étnicas e culturais. Ambos eram judeus, pertencentes ao povo de Israel, descendentes da tribo de Judá, conforme narrado nas genealogias dos evangelhos de Mateus e Lucas.
A HERANÇA DE MARIA
Maria é frequentemente destacada como uma figura central na narrativa cristã. Sua linhagem é de extrema importância; segundo o evangelho de Lucas, ela é descendente direta de Davi, um dos mais importantes reis de Israel. Essa conexão não é meramente simbólica; ela representa a continuidade da promessa divina feita a Davi de que seu trono seria estabelecido para sempre (2 Samuel 7:16). A tradição judaica também enfatiza que a identidade religiosa é transmitida pela linha materna, o que reforça ainda mais a importância da herança de Maria.
Além disso, Maria é retratada como uma mulher de profunda fé e conhecimento das Escrituras. O Magnificat, seu cântico em Lucas 1:46-55, revela sua compreensão das histórias da formação de Israel e sua posição dentro dessa narrativa sagrada. Essa conexão com a história israelense a posiciona não apenas como uma figura passiva na história do cristianismo, mas como uma protagonista ativa que cumpre as promessas divinas.
A IDENTIDADE DE JOSÉ
José também desempenha um papel crucial na narrativa. Como esposo de Maria e pai adotivo de Jesus, ele também é descrito como descendente da linhagem de Davi. Isso é significativo porque estabelece Jesus não apenas como um líder espiritual, mas também como um legítimo herdeiro do trono israelense. A genealogia apresentada em Mateus 1:16 confirma essa linhagem ao afirmar que “Jacó gerou José, esposo de Maria”.
A decisão de José de aceitar Maria como sua esposa após saber que ela estava grávida pelo Espírito Santo (Mateus 1:18-25) demonstra sua fé e obediência às diretrizes divinas. Ele se torna um exemplo de integridade moral em tempos difíceis, mostrando que a verdadeira liderança muitas vezes se manifesta através do serviço humilde.
A CONTROVÉRSIA ATUAL
A escolha de atores israelenses para interpretar personagens palestinos em “Mary” gerou críticas por parte de ativistas que afirmam que essa representação ignora as complexidades da identidade palestina contemporânea. Embora Maria e José sejam figuras históricas associadas à tradição judaica, o contexto geográfico em que viveram foi moldado por séculos de história e conflito.
Os ativistas argumentam que a escolha do elenco deve refletir a realidade atual da região, onde as identidades palestina e israelense estão profundamente entrelaçadas. Essa controvérsia destaca a necessidade de um diálogo mais profundo sobre representação cultural e histórica em produções cinematográficas.
Maria e José são figuras emblemáticas cuja herança transcende as divisões geográficas modernas. Enquanto geograficamente palestinos, eles são indiscutivelmente parte do povo israelense segundo a tradição bíblica. A narrativa bíblica os apresenta não apenas como personagens históricos, mas como símbolos da continuidade das promessas divinas feitas ao povo de Israel.
A controvérsia em torno do filme “Mary” serve como um lembrete da complexidade das identidades na região e da importância de respeitar tanto as tradições religiosas quanto as realidades contemporâneas. Ao abordar essas questões com sensibilidade e compreensão histórica, podemos apreciar mais plenamente o legado duradouro desses personagens fundamentais na história da humanidade.