Por William Saliba
Nove anos após o colapso da Barragem de Fundão, em Mariana, os efeitos devastadores ainda assolam o Rio Doce e a costa do Espírito Santo. O recente relatório anual do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática revela que a fauna local sofre com doenças e deformidades, resultantes da contaminação por metais pesados provenientes do rompimento da barragem.
Desde o fatídico rompimento da barragem, em novembro de 2015, o Rio Doce e suas imediações enfrentam uma crise ambiental sem precedentes.
Pescadores, pesquisadores e ambientalistas encontram evidências alarmantes de que a poluição persiste, afetando a saúde de espécies marinhas e potencialmente impactando a vida humana ao longo da bacia do Rio Doce.
A poluição por metais pesados, como ferro, níquel, arsênio, cádmio e alumínio, tem causado um sofrimento prolongado à fauna local. O último relatório do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática documenta a presença desses metais em diversas espécies, desde peixes e tartarugas até aves, tartarugas e cetáceos, como toninhas e baleias.
As observações são preocupantes: tartarugas aparecem com úlceras e peixes com feridas, enquanto ostras e outros moluscos estão cobertos por camadas de lama tóxica. Além disso, as baleias encalhadas têm mostrado níveis alarmantes de metais pesados em seus sistemas, detectados por meio de biópsias. Esses metais não só afetam a saúde dos animais, mas também podem ter consequências para a segurança alimentar e para a saúde humana, dado que muitas das espécies contaminadas são consumidas pelas populações locais.
O fato de que a lama tóxica da barragem ainda persiste em larga escala, quase uma década após o desastre, reforça a magnitude e a persistência do problema. A Fundação Renova, responsável pela gestão dos esforços de reparação, adverte que os dados do relatório devem ser analisados com precaução, mas a realidade enfrentada por pescadores e ambientalistas é inegável.
O sofrimento contínuo da fauna do Rio Doce destaca uma crise ambiental e humana que não pode ser ignorada. É imperativo que as autoridades e a Fundação Renova intensifiquem os esforços para mitigar os danos e restaurar o equilíbrio ecológico da região.
Além disso, é crucial que haja um acompanhamento mais rigoroso dos impactos a longo prazo e um apoio efetivo às comunidades afetadas. Nove anos depois, a resposta adequada a essa tragédia ambiental deve ir além das promessas e ações superficiais; é necessário um compromisso real com a recuperação e a justiça ambiental.
A reflexão que fica é sobre até que ponto a natureza e a vida humana devem pagar por erros passados, e como garantir que tais desastres não se repitam no futuro.
Não há dinheiro que pague tamanhos danos ao Rio Doce, ou melhor definindo: ao inesquecível rio de lama.