Por Natália Brito (*)
A eleição de Donald Trump, empresário e ex-presidente dos Estados Unidos, provocou debates intensos que ultrapassaram o campo da política. Para além das polêmicas, sua ascensão ao poder revelou, na arquitetura e no urbanismo americano, sinais de um movimento nacionalista e de uma tentativa de resgate de valores tradicionais e grandiosos.
Este momento representou uma reflexão sobre o impacto que a ideologia de uma liderança política exerce sobre o ambiente construído, redefinindo, em certa medida, a paisagem urbana e arquitetônica dos Estados Unidos.
Donald Trump, antes de sua trajetória política, construiu uma carreira marcada pelo investimento em edifícios grandiosos, espelhados e fortemente associados a sua marca pessoal. Sua empresa, a Trump Organization, gerou um portfólio que inclui marcos arquitetônicos em Nova York, Las Vegas e Chicago. Esses edifícios, revestidos de vidros reluzentes e metais dourados, são a personificação de um estilo que muitos consideram, ao mesmo tempo, símbolo de ambição e ostentação.
Contudo, para além das críticas, essa estética se tornou uma assinatura, atraindo seguidores que enxergam nas construções de Trump uma representação do “sucesso americano” e do poder econômico.
A eleição de Trump reacendeu um discurso sobre a valorização da arquitetura nacional. Em 2020, ele assinou uma ordem executiva defendendo que os novos edifícios federais fossem construídos em estilo clássico (“Promoting Beautiful Federal Civic Architecture”), rejeitando o que chamou de “arquitetura brutalista e de gosto duvidoso” que vinha ganhando espaço nos Estados Unidos.
Segundo a ordem, os edifícios deveriam refletir uma estética que se harmonizasse com o patrimônio histórico nacional e que fosse “belo”. Essa proposta foi recebida de forma mista: enquanto alguns arquitetos e urbanistas viam a medida como um retrocesso ao limitar a liberdade criativa, outros a consideraram uma tentativa válida de alinhar os projetos públicos a um ideal de monumentalidade clássica que remete aos primeiros tempos da nação.
A ordem de Trump, embora tenha gerado discussões sobre a identidade visual dos prédios federais, foi anulada no início da administração de Joe Biden, restaurando a liberdade para os arquitetos escolherem estilos variados para edifícios governamentais de acordo com o contexto e a localização geográfica dos projetos.
O gosto pessoal de Trump por uma arquitetura de luxo e imponência também influenciou essa proposta. Seus hotéis e residências são repletos de mármores italianos, colunas clássicas e grandes candelabros, criando uma atmosfera palaciana que foge do estilo minimalista que dominou o século XXI.
Seu posicionamento pode ser entendido como um apelo para que a arquitetura pública resgate a solenidade, uma resposta contrária ao modernismo funcional e, por vezes, aos estilos experimentais. No entanto, o arquétipo clássico proposto tem suas raízes nas construções gregas e romanas, refletindo um ideal de democracia que não necessariamente dialoga com a realidade multicultural e diversificada da sociedade americana.
O período de Trump na Casa Branca marcou, indiscutivelmente, uma tentativa de transformar a paisagem arquitetônica e urbana americana. Se essa transformação foi para melhor ou pior, dependerá do ponto de vista. Enquanto muitos consideram que as propostas de Trump para uma arquitetura pública clássica limitavam a expressão criativa e cultural, outros a viam como uma defesa da identidade nacional. Seu legado, sem dúvida, levantou questionamentos importantes sobre como as escolhas arquitetônicas podem simbolizar o poder, a história e a ideologia de uma nação.
Ao final, o que fica claro é que arquitetura e política caminham lado a lado e que a identidade arquitetônica de uma nação deve refletir, com equilíbrio, tanto o seu passado quanto a sua constante reinvenção. A arquitetura americana, complexa e diversa, ainda passa por transformações, e o que o futuro reserva será construído por lideranças que compreenderão, mais profundamente, as necessidades urbanas de uma população plural.
A herança de Trump na arquitetura americana é controversa, mas certamente se tornará um capítulo importante para a história do país.
Natália Brito é arquiteta e professora mestre, com 15 anos de experiência na área de projetos e 12 anos dedicados à educação. Ela possui a Formação DAP (Desenvolvimento Avançado de Projetos) e é cofundadora da Arqcalc, uma startup de Precificação de Projetos. Através de plataformas digitais, mentora milhares de profissionais da Arquitetura e Design, ajudando-os a aprimorar suas práticas e gestão.