Por Walter Biancardine (*)
Embora a Santa Inquisição não tenha sido, na realidade histórica, nem sombra do reinado de terror e morte anunciado por filmes carontianos e professores doutrinadores – sempre alérgicos moralmente ao catolicismo – valho-me de seu apelo, tristemente já arraigado nas pessoas, para dar o tom da infinitamente pior verdade dos dias que vivemos, no Brasil.
Tal e qual a acusação medieval de “bruxaria”, o santo tribunal brasileiro se vale dos “inquéritos” para, primeiramente, pespegar a tarja – adesiva e repulsiva – de “indiciado” e de alguém que “ameaça violentamente a democracia”. Tal difamação é propagada por seus lacaios – cúmplices – da grande mídia, resultando na difamação, desmoralização e segregação do condenado – sim, condenado a priori, sem julgamento e contraditório, pois o passo seguinte é sua prisão.
Tantas vezes se vale o santo tribunal brasileiro deste recurso que o mesmo já caiu na rotina, amortecida pelo fato mórbido que o ser humano a tudo se acostuma, desde que não tenha de pagar por isso.
O santo inquérito já fulminou todos – TODOS – os verdadeiros e principais apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, prendeu a maioria deles (sem transitado em julgado), encarcerou de uma só vez quase duas mil pessoas que se manifestavam e levou alguns deles à morte, por inanição de socorro. Do mesmo modo, este santo inquérito já declarou como inelegíveis todos – TODOS – os principais políticos apoiadores do antigo mandatário, chantageia parlamentares ameaçando-os de processos e revoga, descaradamente, as leis aprovadas em plenário. E tudo isso é um nada, se levarmos em conta que este mesmo santo inquérito tirou um ladrão, condenado em todas – TODAS – as instancias da cadeia, para que assumisse a Presidência da República como um seu fantoche.
Não deve se espantar, o brasileiro, que este mesmo santo inquérito togado perca seu preciosíssimo tempo às voltas com mais um “inquérito”, desta vez envolvendo pequena celebridade que trocou a letra de uma música cantada por ela, substituindo Iemanjá por Yeshua (Jesus).
Sim, o santo inquérito também se abateu sobre ela, mas apenas como um capricho de ditadores enfastiados do alto de seu divino poder. Atendendo a “minorias” – que hoje são igualmente ditadoras – entendeu tal e divina Corte voltar suas atenções para o caso, pespegando na testa da cantora mais uma tarja, desta vez a de “racista religiosa”.
Tal caso nada é, além de puro capricho e falta do que fazer. O santo inquérito satisfaz-se mostrando o enorme tamanho de seu poder, a mídia regozija-se em bajulá-los, macumbeiros em festa e a vida segue, desde que Nosso Senhor Jesus Cristo se lasque novamente.
Tivesse o brasileiro médio o saudável hábito de anotar, em uma folha de papel, todos os absurdos já sofridos (de boca calada) e este país estaria em plena guerra civil.
Mas, como disse no início deste artigo, “a tudo nos acostumamos, desde que não tenhamos de pagar”.
A exceção são os impostos, cada vez maiores.