Por William Saliba (*)
Em um movimento estrategicamente calculado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro refugiou-se nos Estados Unidos, solicitando licença não remunerada à Câmara dos Deputados. Com isso, evitou o cerco imposto pelos algozes do atual regime de exceção jurídico-institucional ao qual o Brasil parece submetido. Trata-se, sem dúvida, de um ato de inteligência tática e, ao mesmo tempo, uma demonstração de coragem política.
Eduardo, ao ganhar projeção na mídia internacional e com sua relação pessoal com a família Trump, abre caminhos para que o governo norte-americano, direta ou indiretamente, amplifique pressões contra o avanço do projeto ideológico defendido pelo Foro de São Paulo, que atinge não apenas o Brasil, mas também Venezuela e Colômbia.
Porém, seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, permanece em solo brasileiro, enfrentando iminente risco de condenação e prisão. O ministro do STF Cristiano Zanin — ex-advogado de Lula na Lava Jato — marcou para a próxima terça-feira (25), às 9h30, o julgamento da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente, o general Braga Netto e outros seis acusados, em processo que versa sobre uma suposta tentativa de golpe.
Compartilho da opinião manifestada nesta quarta-feira (19) pelo jornalista Rodrigo Constantino, também exilado nos Estados Unidos, ao sugerir que Jair Bolsonaro busque, enquanto ainda há tempo, refúgio na Embaixada da Argentina. Um gesto desse porte teria enorme repercussão internacional, possivelmente ainda maior do que o movimento feito por seu filho.
Em um cenário onde a ordem jurídica parece ter sido substituída pela militância política dentro das instituições, submeter-se a um julgamento por um tribunal que já não esconde seu viés ideológico é, no mínimo, temerário. Principalmente quando as acusações carecem de materialidade comprovada, e o direito à ampla defesa e ao contraditório é posto em dúvida. A condenação parece desenhada e, caso ocorra a prisão, não se pode sequer garantir a segurança física do ex-presidente.
Portanto, o momento exige bom senso e prudência. Coragem política, sim — mas não heroísmo inconsequente.
Como diz o velho ditado, os cemitérios estão cheios de heróis. O Brasil, neste momento, precisa de estratégia, não de mártires.