Por Natália Brito (*)
O retorno de Donald Trump ao cenário político reacende debates sobre diversos temas, incluindo a arquitetura dos edifícios públicos nos Estados Unidos. Durante sua gestão, Trump assinou uma ordem executiva que estabelecia a arquitetura clássica como referência para novas construções federais, alegando que esse estilo transmite solidez e grandeza. A decisão foi polêmica e dividiu arquitetos e urbanistas entre os que defendem a preservação estética tradicional e os que acreditam que a imposição de um único estilo limita a inovação e a representatividade social.
A arquitetura sempre foi uma ferramenta política poderosa, refletindo os valores e aspirações de uma sociedade. Nos EUA, o neoclassicismo dominou as construções públicas por séculos, evocando a grandiosidade da Grécia e de Roma como símbolos de democracia e estabilidade. No entanto, no século XX, o modernismo trouxe uma nova perspectiva, priorizando funcionalidade, eficiência e estética contemporânea. O decreto de Trump, ao restringir os novos projetos a um modelo clássico, reacendeu o embate entre tradição e evolução arquitetônica.
Se por um lado a arquitetura clássica carrega um senso de imponência e familiaridade, por outro, o decreto ignorava a diversidade estética e cultural do país. Arquitetos renomados criticaram a medida, argumentando que a identidade de uma nação não deve ser limitada a um único estilo, mas sim refletir sua pluralidade. A imposição de uma estética rígida, em um país marcado pela diversidade cultural e arquitetônica, representa um retrocesso ao pensamento centralizador que restringe a liberdade criativa e a inovação.
Joe Biden revogou a ordem executiva de Trump ao assumir a presidência, restaurando a liberdade na escolha dos estilos arquitetônicos para edifícios federais. Ainda assim, o debate persiste. A arquitetura pública não pode ser apenas uma questão de nostalgia ou preferência estética; ela deve servir às necessidades da população e expressar os valores contemporâneos. O ideal seria um equilíbrio entre respeito à tradição e abertura para novas linguagens arquitetônicas, garantindo que os edifícios públicos representem, de fato, a sociedade para a qual foram projetados.
A discussão em torno da arquitetura clássica no governo Trump não se trata apenas de fachadas e colunas, mas de como os espaços públicos são pensados e para quem são construídos. Ao final, o que nos cabe é projetar espaços que nos tragam segurança, pertencimento e respeito ao usuário dos espaços, públicos ou privados. A verdadeira questão não é escolher entre tradição ou modernidade, mas permitir que a arquitetura evolua com a sociedade, sem imposições políticas que restrinjam sua essência transformadora.