Por Alice Costa (*)
“Nem quero saber o preço, só se parcelar.” A frase parece uma brincadeira, uma piada que viraliza em memes e vídeos engraçados, mas o que está por trás dela não tem nada de engraçado. É o retrato de uma relação distorcida com o consumo e com o dinheiro, que se tornou comum demais para ser ignorada.
Ao longo dos anos, o parcelamento se tornou regra no Brasil. A sensação de que “se cabe no bolso, tá tudo certo” levou muitas pessoas a consumir sem avaliar o impacto real das escolhas. O valor total da compra perde a importância. O que vale é o tamanho da parcela, a ilusão de que está tudo sob controle. Só que o controle é apenas aparente. E a liberdade financeira vai se perdendo, uma prestação de cada vez.
Para entender melhor o que isso significa, imagine a seguinte situação: uma pessoa deseja comprar um celular novo. O aparelho custa R$ 3.000 à vista, mas é oferecido em 12 parcelas de R$ 320. Parece viável, afinal, a diferença entre os valores mensais e o que se ganha no mês parece pequena. Mas, ao final do ano, essa pessoa terá pago R$ 3.840 pelo mesmo aparelho — R$ 840 a mais do que o preço original. Esse valor extra não é apenas um custo invisível. Ele representa a perda de uma oportunidade: de investir, de guardar, de usar esse dinheiro de forma mais estratégica.
E se esse comportamento se repete com outros itens do dia a dia — um eletrodoméstico aqui, uma televisão ali, um curso parcelado no cartão, uma assinatura que nunca é cancelada — o acúmulo de pequenas parcelas vai criando uma bola de neve. Quando a pessoa percebe, boa parte da renda mensal já está comprometida antes mesmo do mês começar. E aí fica difícil sair do lugar, planejar, sonhar com algo maior.
Não é que parcelar seja um pecado. Em alguns casos, pode até ser necessário ou vantajoso. Mas quando o parcelamento se torna o único critério para decidir uma compra, algo está errado. E esse comportamento revela uma urgência: precisamos repensar nossos hábitos de consumo e nossa relação com o dinheiro.
O consumo impulsivo, baseado apenas na parcela, muitas vezes nasce de uma necessidade emocional, e não real. Comprar para se sentir melhor, para se encaixar em um padrão, para não ficar de fora. Mas a conta chega. E não é só a fatura do cartão: é o estresse, a ansiedade, a sensação constante de sufoco financeiro.
Se você já se viu dizendo essa frase ou rindo dela sem perceber o peso que carrega, talvez seja hora de parar e refletir. Antes de perguntar se parcela, pergunte a si mesmo: eu realmente preciso disso? Posso pagar à vista? Estou adiando problemas ou resolvendo necessidades?
Uma dica prática é criar o hábito de esperar 48 horas antes de fazer qualquer compra parcelada. Esse intervalo de tempo ajuda a esfriar o impulso e a refletir se aquela compra faz sentido na sua realidade. Muitas vezes, o que parecia urgente perde o brilho depois de dois dias.
A liberdade financeira não nasce de grandes fortunas, mas de pequenas decisões conscientes. Saber o preço — e não apenas o valor da parcela — é um primeiro passo para retomar o controle da sua vida financeira.