Por Alice Costa (*)
Dinheiro assusta. Dá medo ver a conta no vermelho, o boleto vencido, o cartão estourado. Parece que a vida vai desmoronar. Tem gente que tropeça nas contas e sente que levou um tiro. Mas será que foi mesmo?
Sabe o que aprendi ouvindo tantas histórias ajudando as pessoas a cuidar do dinheiro? Aprendi que o problema financeiro quase nunca é o que mais machuca. Ele grita, sim. Mas o que realmente dói está por trás do grito.
Muita gente chega até mim dizendo que “a vida está um caos por causa do dinheiro”. Mas quando começamos a puxar o fio da meada, percebemos que o dinheiro é só o sintoma. O que dói de verdade, o que sangra de fato, são outras coisas.
É o cansaço de ser o único pilar da casa.
É o medo de perder o respeito porque não consegue pagar tudo.
É a solidão de quem carrega o peso sem ter com quem dividir.
É a frustração de não viver o que sonhou porque a realidade se impôs.
Dinheiro é importante, claro. Mas ele quase nunca é o verdadeiro problema. Ele é a bala de raspão que assusta, que deixa uma marca, mas que não derruba. O que nos derruba mesmo são os conflitos que o dinheiro escancara.
Às vezes, é no aperto financeiro que aparecem as mágoas acumuladas, os relacionamentos frágeis, a falta de diálogo. É quando falta o dinheiro que percebemos o quanto também pode estar faltando apoio, parceria, amor-próprio, saúde mental.
Falar sobre finanças é, na verdade, falar sobre vida.
E olhar para a vida exige coragem.
Quando a gente começa a cuidar do dinheiro, é comum perceber que o buraco é mais embaixo. E tudo bem. Porque organizar a vida financeira é também uma oportunidade de reorganizar o que está fora do lugar dentro da gente.
A ferida do dinheiro se trata com planilha, conversa, escolha.
A outra, a que mora no silêncio e na alma, precisa de espaço, de escuta e de acolhimento.
Se o seu problema parece ser o dinheiro, talvez seja hora de olhar para ele com mais cuidado — e ver o que mais ele está tentando te contar. A bala passou de raspão. O machucado que ficou pode ser sinal de algo mais profundo.
E a boa notícia? Tudo pode ser curado. Inclusive as finanças.