Por William Saliba (*)
A política externa brasileira, outrora reconhecida por sua diplomacia pragmática e capacidade de mediação entre diferentes polos geopolíticos, vive hoje um momento de grave desorientação estratégica. O fracasso na condução da cúpula do BRICS no Rio de Janeiro é apenas o mais recente sintoma de um governo que vem encolhendo o prestígio internacional do Brasil e impondo, ao país, custos políticos e econômicos crescentes por suas más escolhas no campo das relações exteriores.
O governo Lula, que tenta reeditar em 2025 a retórica da multipolaridade dos anos 2000, viu sua proposta de protagonismo dentro do BRICS naufragar diante de um cenário internacional hostil e de um alinhamento simbólico, porém desastrado, com uma agenda que vem despertando fortes reações no Ocidente. A reunião do bloco no Rio de Janeiro — esvaziada, desorganizada e ignorada por grandes potências — consolidou a percepção internacional de que o Brasil, sob a atual gestão, não tem mais peso nem direção diplomática. O que já era visto como um “anão diplomático” agora ganhou, nas palavras de analistas estrangeiros, o status de “micróbio diplomático”.
A reação veio com força e clareza. Donald Trump, anunciou no último domingo (6), por meio de sua rede Truth Social, uma medida concreta contra países que se alinhem ao BRICS: uma tarifa adicional de 10% sobre produtos importados. A decisão, segundo Trump, entraria em vigor já a partir do meio-dia desta segunda-feira (7), horário da costa leste dos EUA, com envio de cartas notificando até 15 nações. Embora o comunicado não tenha nominalmente citado o Brasil, os sinais foram claros, e a imprensa americana interpretou a iniciativa como uma retaliação direta à tentativa do bloco de criar um contraponto comercial e institucional ao Ocidente.
Trump justificou a medida como resposta às declarações do BRICS contra o que o bloco classificou como “proliferação de medidas restritivas ao comércio”, em referência a políticas tarifárias adotadas por países desenvolvidos. O ex-presidente norte-americano foi enfático ao afirmar que “não haverá exceções” para os países que optarem por uma rota de antagonismo à lógica econômica do Ocidente, numa crítica direta ao expansionismo retórico do BRICS liderado, entre outros, pelo Brasil.
A repercussão foi imediata. Mercados reagiram com cautela, investidores voltaram a precificar riscos associados à condução diplomática e econômica brasileira, e a imagem do país como parceiro confiável sofreu mais um abalo. Em um mundo cada vez mais polarizado, o Brasil deveria estar capitalizando sua posição estratégica como mediador e moderador. Em vez disso, o governo atual opta por posturas ideológicas e gestos de enfrentamento, sem a robustez necessária para sustentar tais posições.
A crítica não se limita ao campo econômico. O episódio revela uma falha mais profunda: a completa ausência de uma política externa coerente, realista e alinhada com os interesses nacionais. Ao tentar transformar o BRICS em uma frente de contestação global — e ao sediar uma cúpula que beirou o fiasco — o Brasil arrisca sua posição em cadeias de valor, em acordos comerciais e em fóruns multilaterais essenciais à sua estabilidade.
O alerta feito pelo The Epoch Times, em reportagem publicada na manhã desta segunda-feira, é revelador. O jornal destaca que o gesto de Trump não foi apenas um ato de política interna americana, mas sim uma mensagem geopolítica clara: quem cruzar determinadas linhas ideológicas poderá pagar o preço em tarifas, sanções e isolamento. E o Brasil, ao que tudo indica, pode estar entre os primeiros alvos.
Internamente, o governo Lula tenta minimizar o impacto, afirmando que o Brasil defende uma ordem multipolar justa e equilibrada. Na prática, porém, a retórica não encontra lastro em ações diplomáticas concretas, tampouco em alianças estratégicas bem-sucedidas. A tentativa de reaproximação com regimes autoritários, o distanciamento de parceiros comerciais tradicionais e a má condução de fóruns multilaterais revelam um governo mais interessado em marcar posição ideológica do que em defender os interesses objetivos do país.
Neste cenário, o Brasil precisa urgentemente reavaliar sua política externa. O custo do improviso, do amadorismo e do voluntarismo pode ser altíssimo. Sobretudo em um mundo em que pragmatismo, confiança e previsibilidade se tornaram moedas cada vez mais valiosas no jogo geopolítico. Ser parte de um bloco não é, por si só, uma virtude; muito menos quando esse bloco é mal liderado, mal percebido e geopoliticamente disfuncional.
É tempo de o Brasil deixar de ser um laboratório de diplomacia ideológica e recuperar sua vocação histórica: ser um articulador confiável, respeitado e independente. O tempo e a paciência dos mercados — e do mundo — estão se esgotando.