Por William Saliba (*)
Dom Quixote de La Mancha é um dos personagens mais emblemáticos da literatura, conhecido por sua incapacidade de distinguir realidade e fantasia. Ele se apega obstinadamente a suas crenças, recusando-se a aceitar fatos que contradigam seu mundo idealizado. Sua teimosia o leva a enfrentar inimigos imaginários, como os famosos moinhos de vento, que ele insiste em ver como gigantes ameaçadores.
Curiosamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece compartilhar traços similares ao cavaleiro da triste figura. Sua retórica grandiosa, sua crença inabalável na própria narrativa e sua insistência em confrontar “gigantes” inatingíveis fazem lembrar a icônica obra de Cervantes. Sua mais recente batalha? Enfrentar Donald Trump em uma guerra comercial que só um dos lados tem munição suficiente para vencer.
Lula reagiu de forma enfática às ameaças do presidente americano de impor tarifas de 100% sobre produtos brasileiros. Em um discurso inflamado no Palácio do Planalto, garantiu que haveria “reciprocidade” caso os Estados Unidos concretizassem as sanções. Como se a economia brasileira tivesse o mesmo peso da norte-americana, Lula assegurou que o Brasil também retaliaria, taxando produtos importados dos EUA.
A tensão comercial escalou após Trump criticar iniciativas do Brics para reduzir a dependência do dólar no comércio internacional. O presidente brasileiro, mantendo sua postura quixotesca, minimizou a dependência do Brasil em relação ao mercado americano. No entanto, ele convenientemente ignorou que o Brasil depende consideravelmente das exportações para os EUA em setores estratégicos, como commodities e manufaturados.
Mas Lula não se limitou às questões comerciais. Com entusiasmo digno de um redentor da humanidade, ele também criticou as políticas de Trump no cenário global. Entre as suas reclamações, mencionou a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e os cortes no financiamento à Organização Mundial da Saúde (OMS), classificada por ele como uma “regressão da civilização humana”.
As provocações de Lula a Trump não são recentes. Antes mesmo da última eleição presidencial americana, ele declarou ao canal francês TF1 que uma eventual vitória de Trump representaria “o fascismo e o nazismo voltando a funcionar com outra cara”.
Outro ponto de atrito entre os dois líderes foi a política migratória americana. O governo brasileiro demonstrou descontentamento com as condições dos migrantes deportados dos EUA, especialmente em relação ao uso de algemas e ao tratamento degradante nos voos de repatriação.
Como resposta, o governo convocou um diplomata norte-americano para expressar sua insatisfação e exigir que os deportados sejam tratados com dignidade. Trump, por sua vez, manteve sua postura inflexível, afirmando que os países de origem dos migrantes, incluindo o Brasil, “vão recebê-los de volta, e vão fazer isso com gosto”.
A obstinação de Lula em se colocar como adversário direto de Trump na arena global levanta questões sobre sua percepção de força e relevância no jogo geopolítico. Sua valentia lembra outro personagem ilustre: Davi contra Golias. No entanto, ao contrário do jovem pastor hebreu, Lula não parece reconhecer sua “estatura” internacional.
Enquanto Trump movimenta peças no xadrez mundial, Lula se contenta em brandir sua funda contra moinhos de vento, assumindo o papel de anão diplomático que acredita ser gigante.