Nesta terça-feira (8), às 14h, o grupo de teatro da terceira idade do Ponto de Cultura Rizoma sobe ao palco para apresentar a performance Encantos de Minas, na sede do VivaIdade, em Coronel Fabriciano. O espetáculo é livre e tem entrada gratuita.
O público poderá esperar um encontro que celebra as belezas e tradições de Minas Gerais. “A peça fala das nossas cidades históricas, das montanhas, do povo desconfiado e hospitaleiro, da culinária, de Drummond, da mineração e das músicas dos festejos. São aquelas canções que nos embalaram, que trazem memória e afeto. Minas é amor. É uma peça que vale a pena ver”, afirma o diretor Roberto Yokel.
A apresentação é mais do que um ato cultural: é a expressão viva de histórias de superação, amizade e saúde emocional que se costuraram ao longo de mais de uma década de trabalho coletivo. Para muitos integrantes, o palco do Rizoma é um lugar onde se encontram com a própria vida. “Quando eu chego aqui, esqueço que tenho casa, problema de saúde, contas. Aqui, eu vivo”, conta Maria das Graças Silva, que encontrou no teatro uma forma de superar doenças crônicas e tristeza.
A palavra mais ouvida nos bastidores é vida. “Eu ficava em casa, no sofá. Sem propósito. O teatro me deu um ânimo diferente. Agora eu ensaio, tenho colegas, brinco, me expresso”, diz Maria da Conceição. “Antes eu tinha vergonha de falar, de me vestir do meu jeito. Agora, me visto como quero. Quem achar ruim, o problema é dele”.
O grupo reúne pessoas que descobriram a arte já na maturidade. “Nunca fiz teatro na infância. Comecei com 70. Agora faço teatro, coral, dança, ginástica, percussão. E sou mais feliz por isso”, revela Maria da Cruz.
Roberto destaca que o impacto do teatro vai além do palco: “O teatro mostra outro ponto de vista sobre a sociedade, nos aproxima de outras culturas e promove integração. Para quem não teve oportunidade na juventude, viver o teatro agora é abrir um novo horizonte. Muitos nunca nem tinham entrado num teatro. Hoje têm a sensação maravilhosa de serem protagonistas e de verem seus filhos e netos na plateia. Isso é transformador”.
A dimensão terapêutica da arte é evidente. “É aqui que eu espanto a tristeza, a ansiedade. É aqui que exercito a mente pra não deixar a memória falhar”, explica Eva. Para Abraão Nunes, o teatro foi um ponto de virada: “Quando comecei, minha vida tava destruída. Fui parar na UPA. Hoje escrevo, atuo, pesquiso. Viver com arte é minha recomendação pra qualquer um”.
“Cada encontro, cada ensaio é uma festa. Quando termina na segunda-feira, às cinco e meia da tarde, já ficam ansiosos para a próxima semana. A alegria deles é tão grande que muitos dizem: ‘Por que demorei tanto para conhecer o teatro?’”, relata Roberto.
Para Vandina Soares, o diretor é figura central no processo: “Ele é um anjo que Deus mandou. Ele nos trata como filhos.” Segundo os participantes, Roberto equilibra exigência e afeto. “Ele nos cobra, mas com carinho. Ensina, escuta, constrói com a gente”.
A história do grupo começou com o desejo de muitos que atuavam como figurantes na Paixão de Cristo em Coronel Fabriciano. “Depois de um curso de teatro de seis meses no VivaIdade, que teve muita adesão, surgiu o interesse de continuar. Hoje já estão na terceira peça e se apresentam em escolas, no Rizoma, no VivaIdade, na Corporação Musical Santa Cecília e outros espaços. Pelo que vejo, vai ser difícil pará-los”, diz Roberto.
Para quem pensa que teatro é apenas brincadeira, ele completa: “Basta assistir a um ensaio desse grupo para perceber que é coisa séria e faz bem. O teatro ensina disciplina, estudo, convivência, autoconfiança. Nunca é tarde para começar. Quando chega o tempo e aparece a oportunidade, o importante é abraçar e seguir”.
Para muitos, o grupo virou uma segunda família. “A gente se abraça, ri, vive junto. É melhor do que ficar em casa pensando na vida”, diz uma participante. Anedina de Jesus completa: “Quando falo que não posso ir ao ensaio, fico triste. O teatro me chama pra vida”.
Entre risos, Anedina sintetiza a autoestima conquistada: “Sou pequena, mas sou forte. Sou calma, mas sou valente. Falar alto não me assusta. Careta não me assusta”.
Hoje, o grupo do Rizoma Cultural é referência em Coronel Fabriciano. “Aqui, ninguém é figurante da própria vida. Todo mundo protagoniza alguma coisa”, resume Roberto Yokel. “Mais do que um projeto artístico, o Rizoma é uma rede de afetos. Um espaço onde as memórias ganham corpo, as dores viram poesia e as rugas brilham no palco com a mesma intensidade das luzes”.
“É aqui que eu sou feliz”, conclui Mereciana, a Merá. “Aqui, a gente sente que tem valor. Aqui, o teatro é vida”.
CIÊNCIA COMPROVA: TEATRO FAZ BEM À SAÚDE MENTAL — EM QUALQUER IDADE
Estudos científicos apontam que práticas artísticas como o teatro têm impactos positivos na saúde mental, especialmente entre idosos. A participação em atividades cênicas melhora a memória, estimula a coordenação motora, reduz sintomas de depressão e fortalece os vínculos sociais.
Pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) e da Organização Mundial da Saúde mostram que o envolvimento em experiências artísticas ajuda a prevenir o declínio cognitivo, promove o bem-estar emocional e amplia a sensação de propósito de vida.
Os benefícios vão além da performance: processos de criação coletiva, memorização de textos, expressão corporal e contato com o público atuam diretamente na autoestima, autoconfiança e sensação de pertencimento — fatores fundamentais para a saúde integral.
A ciência confirma o que os alunos do Rizoma já sabem na prática: fazer arte é uma forma potente de cuidar da mente, do corpo e do afeto — não importa a idade.