O Tribunal Superior de Londres concluiu a fase de interrogatórios do processo que busca responsabilizar a mineradora BHP pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em 2015. O caso, que representa 620 mil atingidos, 42 municípios e diversas comunidades tradicionais, revelou detalhes importantes sobre a gestão da barragem antes do desastre.
Durante 42 sessões e aproximadamente 210 horas de audiências, sete testemunhas-chave da BHP e dez especialistas foram ouvidos. Os depoimentos trouxeram à tona informações cruciais, como o uso de uma “solução temporária” na barragem por três anos e a existência de sinais de alerta ignorados desde 2009, apenas cinco meses após o início das operações.
Um dos pontos mais impactantes foi a revelação de que a barragem havia sido classificada como de “mais alto perfil de risco” cinco anos antes do colapso. O ex-vice-presidente de Minério de Ferro da BHP, Christopher Campbell, admitiu desconhecer detalhes importantes sobre a gestão dos rejeitos, mesmo ocupando cargo estratégico.
Documentos apresentados durante o julgamento demonstraram que a BHP exercia controle significativo sobre a Samarco, incluindo decisões operacionais e práticas de remuneração. Evidências também apontaram que a empresa tinha conhecimento dos riscos de rompimento desde 2014, mas não implementou medidas preventivas adequadas, nem mesmo um plano de evacuação eficiente para Bento Rodrigues.
Na fase de especialistas, foram debatidos aspectos do direito brasileiro, incluindo questões ambientais, societárias e de responsabilidade civil. A BHP tentou argumentar que processos de centenas de milhares de vítimas estariam prescritos, defendendo que apenas aqueles que entraram com ação até 2018 poderiam continuar buscando justiça na Inglaterra.
As alegações finais serão apresentadas entre 5 e 13 de março de 2025, com decisão prevista para meados do mesmo ano. O caso representa um marco na busca por justiça para as vítimas do maior desastre ambiental da história do Brasil, que deixou 19 mortos e impactos que perduram até hoje.