A cidade de Brumadinho inaugurou no último sábado, 25 de janeiro, um memorial em homenagem às 272 vítimas do rompimento da barragem da Vale, ocorrido há seis anos. O projeto, desenvolvido pelo arquiteto Gustavo Penna, representa uma conquista dos familiares após intensa mobilização junto ao Ministério Público de Minas Gerais.
O memorial, construído no local do desastre, abriga um bosque com 272 ipês amarelos e espaços dedicados à reflexão e memória. A estrutura austera, descrita pelo arquiteto como “severa e monocromática”, reflete a seriedade e a dor do evento que marcou a história do país.
A Fundação Memorial Brumadinho, criada em 2023 após acordo entre a Vale e a Associação de Familiares de Vítimas (Avabrum), será responsável pela administração do espaço. Durante a cerimônia de inauguração, familiares compartilharam depoimentos emocionados, reforçando a importância do local para preservar a memória dos entes queridos.
O procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, destacou o simbolismo do memorial como compromisso com a verdade e a justiça. O espaço inclui uma área específica para a guarda dos restos mortais das vítimas, seguindo modelos internacionais como o Memorial do 11 de Setembro, em Nova York.
O governador Romeu Zema ressaltou que o local deve se tornar um dos mais visitados de Minas Gerais, servindo como alerta permanente sobre a importância da segurança em barragens e preservação da vida. A tragédia, considerada o maior desastre ambiental do Brasil, ainda aguarda desfecho judicial, com 16 ex-diretores e duas empresas denunciadas pelo Ministério Público.
A presidente da Avabrum, Nayara Cristina Dias Porto Ferreira, reforçou o compromisso dos familiares em buscar justiça, transformando a dor em luta por mudanças efetivas na fiscalização de barragens no país. O memorial representa não apenas um espaço de luto, mas um símbolo de resistência e um alerta para que tragédias semelhantes não se repitam.
AS BUSCAS E AS IDENTIFICAÇÕES
Das 272 vítimas, três ainda não foram identificadas. Seis anos após a tragédia, o corpo de bombeiros continua as buscas, na maior operação da história. Os militares são deslocados de todas as regiões do estado para que haja um efetivo de 20 homens trabalhando nas buscas todos os dias. Neste sábado, completaram-se 2.193 dias de buscas pelos segmentos de Tiago Tadeu Mendes da Silva e Nathália de Oliveira Porto Araújo, funcionários da Vale, e Maria de Lourdes da Costa Bueno, que estava hospedada na pousada desaparecida na avalanche de lamas.
No Instituto Médico Legal André Roquette, os trabalhos de identificação também continuam. O médico-legista Ricardo Moreira Araújo esteve na solenidade e explicou que os trabalhos do IML são direcionados à equipe de antropologia forense. “Atualmente tem predominado a identificação pela tecnologia do DNA. Infelizmente, os resultados têm identificado as vítimas novamente. Muitos casos são caracterizados como inconclusivos, porque após empregada toda a tecnologia, não é possível identificar a quem pertence o segmento”, conclui.