Por Natália Brito (*)
O outono chega silencioso, com sua paleta que vai do âmbar ao vinho, sua luz inclinada e um frescor que convida à contemplação. É nessa transição delicada entre o calor do verão e o frio do inverno que duas disciplinas aparentemente distintas – a arquitetura e a moda – encontram um ponto de contato sensível: a forma como criamos e habitamos o mundo ao nosso redor.
Na arquitetura, o outono inspira mais do que cores. Ele sugere ritmos, volumes e experiências sensoriais. A luz natural, menos intensa, ganha novas direções e valoriza materiais como madeira, concreto aparente e tijolos rústicos. Fachadas se tornam mais introspectivas, enquanto os interiores pedem aconchego: tecidos mais pesados, iluminação indireta, texturas táteis. É a estação que celebra o abrigo.
Na moda, o raciocínio é semelhante. Saem os tecidos leves, entram as sobreposições, o veludo, o couro, a lã. As roupas ganham estrutura, tal qual uma construção. É comum ouvir estilistas falarem sobre “arquitetar” um look — e não é metáfora à toa. A arquitetura, com suas linhas e silhuetas, frequentemente serve de referência formal para coleções inteiras.
Neste outono de 2025, a tendência se mantém. Grifes brasileiras como Osklen e Fernanda Yamamoto apostam em cortes assimétricos, formas arquitetônicas e tons terrosos que remetem à arquitetura tropicalista — aquela que valoriza a integração com o ambiente natural. Enquanto isso, arquitetos incorporam tecidos, cores e elementos da moda em seus projetos: cortinas que lembram saias, cobogós como rendas de concreto, paletas que seguem as tendências das passarelas.
Mas não é apenas estética. Tanto na moda quanto na arquitetura, o outono nos convida à reflexão sobre consumo e tempo. É a estação da desaceleração. As folhas caem, as ruas se esvaziam, as pessoas se recolhem. E nesse recolhimento, cresce o apelo por espaços e vestimentas que abracem — não só o corpo, mas a subjetividade.
Essa sensibilidade também reflete uma tendência crescente: o design emocional. Projetos arquitetônicos e coleções de moda que se preocupam com o impacto afetivo, que evocam memórias, que se conectam com a natureza e com o clima. Afinal, uma parede de pedra aquecida pela luz outonal pode ser tão poética quanto um casaco oversized em tom mostarda usado numa tarde nublada.
Em tempos de transformações climáticas e sociais, a convergência entre moda e arquitetura ganha nova importância. Ambas tratam de abrigo, identidade e adaptação. Ambas respondem ao clima – literal e simbólico – de seu tempo. E no outono, talvez mais do que nunca, elas nos lembram de que o essencial não está apenas no que vemos, mas no que sentimos ao ocupar um espaço ou vestir uma peça.
Em última análise, vestir-se e habitar não são atos separados. São manifestações de quem somos, de como lidamos com o tempo, com o espaço e com as mudanças – sejam elas de estação ou de perspectiva.