Por William Saliba (*)
O ex-presidente Jair Bolsonaro, pioneiro entre os ex-mandatários brasileiros a ter seu passaporte apreendido, agora protagoniza uma nova controvérsia internacional. Convidado pelo seu amigo pessoal, ninguém menos que Donald Trump para a cerimônia de posse presidencial dos Estados Unidos, no próximo dia 20 de janeiro, Bolsonaro se vê diante de um pequeno detalhe: ele não pode sair do país.
O convite, anunciado com pompa pelo próprio Bolsonaro em suas redes sociais, parece um reconhecimento especial de Trump e de seu vice, J.D. Vance, pelo empenho do ex-presidente brasileiro em fortalecer os laços entre as duas nações. Inclusive, Bolsonaro fez questão de ressaltar o papel estratégico de seu filho, Eduardo Bolsonaro, como uma espécie de “embaixador informal” junto à família Trump.
Porém, como em toda boa narrativa, há um obstáculo quase shakespeariano: o passaporte de Bolsonaro continua retido pela Polícia Federal desde fevereiro de 2024, resultado de investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. Apesar dos esforços de seu advogado, Paulo Bueno, que já acionou o ministro Alexandre de Moraes no STF, o cenário para uma reviravolta parece tão incerto quanto a diplomacia de Bolsonaro na ONU.
Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro não perdeu a oportunidade de subir no palanque virtual. Em um vídeo inflamado, criticou a decisão judicial e traçou um paralelo curioso entre os “percalços” enfrentados por seu pai e por Trump. Afinal, o destino parece mesmo brincar com ironias quando coloca dois líderes populistas no centro de investigações simultâneas.
A cereja no bolo dessa trama veio pela manhã, quando o jornalista Alexandre Pittoli revelou, no Jornal da Auriverde, que Trump estaria considerando um gesto de solidariedade sem precedentes: se Bolsonaro não puder ir à posse, o recém-empossado presidente americano poderia vir ao Brasil para visitá-lo. Isso mesmo, Trump desceria dos céus políticos como um verdadeiro Maomé moderno, invertendo o ditado para provar que, quando há amizade, nem montanhas nem passaportes são barreiras intransponíveis.
Enquanto isso, no Planalto, Lula já deve estar revisando o protocolo diplomático para evitar o constrangimento de receber um presidente dos Estados Unidos em uma visita “não oficial”, motivada por um ex-presidente com o passaporte retido. Resta saber se, entre as ironias e os bastidores, alguém ficará de fato de “saia justa”.
“Se Maomé não vai a montanha, a montanha vai à Maomé”, como brincam meus patrícios libaneses.