Até o momento, o Brasil tem escapado das tarifas comerciais impostas por Donald Trump, mas especialistas alertam que é apenas uma questão de tempo até o país entrar na mira do presidente americano. Segundo a analista Julia Braun Role, da BBC em Londres, a proteção atual é frágil e pode se desfazer nas próximas semanas.
A ausência do Brasil na primeira leva de taxações se deve, principalmente, ao superávit comercial que os Estados Unidos mantêm na relação bilateral. No entanto, a escalada da guerra tarifária de Trump acende um alerta vermelho para o setor siderúrgico brasileiro.
Especialistas apontam que o aço e o alumínio brasileiros podem ser os principais alvos de novas tarifas, repetindo um cenário semelhante ao do primeiro mandato do republicano. Em 2018, Trump impôs sobretaxas de 25% sobre importações de aço e 10% sobre as de alumínio, afetando diretamente o Brasil. Embora essas tarifas tenham sido posteriormente flexibilizadas através de um sistema de cotas, o episódio revelou a vulnerabilidade do setor às decisões da política comercial americana.
O cenário atual é particularmente sensível, dado que produtos semiacabados de ferro e aço representam 14% das exportações brasileiras para os Estados Unidos, ficando atrás apenas do petróleo bruto. O Brasil está entre os principais fornecedores desses materiais para o mercado americano, junto com Canadá, México e Coreia do Sul.
A questão também tem uma forte dimensão política. As principais siderúrgicas americanas estão localizadas no chamado “Cinturão do Aço”, região que constitui uma base eleitoral estratégica para Trump. O atual vice-presidente americano, J.D. Vance, também tem fortes laços com essa área, o que pode influenciar futuras decisões comerciais.
Otaviano Canuto, do Policy Center for the New South, ressalta que o lobby protecionista contra o aço brasileiro continua ativo em Washington, mesmo sob a administração Biden. Por outro lado, setores como o da aviação, representado pela Embraer, podem escapar de eventuais sobretaxas devido à falta de alternativas no mercado americano para aeronaves de médio porte.
Diante desse panorama, o setor siderúrgico brasileiro precisa se preparar para eventuais turbulências comerciais, considerando a importância do mercado americano para suas exportações. A história recente demonstra que decisões protecionistas podem surgir rapidamente, impactando significativamente o comércio bilateral.
Em 2024, o saldo comercial entre Brasil e Estados Unidos favoreceu os americanos em US$ 253 milhões, com o Brasil importando mais produtos dos EUA do que exportando. A posição do Brasil nas prioridades comerciais americanas também é influenciada pela ausência de um acordo de livre comércio entre os dois países. Além disso, a participação do Brasil nos BRICS e as discussões sobre alternativas ao dólar podem acelerar eventuais retaliações.
Para analistas, a proteção atual do Brasil é circunstancial e pode mudar rapidamente. O histórico de Trump mostra que ele utiliza tarifas como instrumento de pressão política, especialmente contra países que considerados adversários de sua estratégia econômica. O momento exige atenção redobrada do governo brasileiro para antecipar e mitigar eventuais impactos da política comercial americana.
O Brasil que se cuide. A guerra tarifária pode não demorar a chegar por aqui.