Por Edmundo Fraga (*)
Em 2023, os carros híbridos representaram impressionantes 55% das vendas de veículos novos no Japão, enquanto os elétricos ficaram abaixo de 10%. Esse cenário ilustra a abordagem singular do país na transição para uma mobilidade mais sustentável.
Desde o lançamento do icônico Toyota Prius, há quase três décadas, o Japão consolidou sua liderança no mercado de veículos híbridos. Essa tecnologia combina motores a combustão e elétricos, equilibrando eficiência de combustível e redução de emissões, enquanto evita desafios estruturais enfrentados pelos elétricos.
Fatores como a predominância de carros compactos e a limitada infraestrutura de carregamento fazem dos híbridos a opção ideal no Japão. Projeções indicam que, até 2030, 70% dos veículos vendidos no país serão híbridos. Além disso, o forte patriotismo do consumidor japonês favorece gigantes locais como Toyota e Honda.
A infraestrutura de carregamento no Japão não é suficiente para uma frota elétrica robusta. Além disso, o país enfrenta desafios energéticos, tornando as soluções híbridas uma alternativa pragmática. Em áreas densamente urbanizadas, onde o transporte público é dominante, a necessidade de eletrificação total é menos premente.
Desafios globais para os elétricos
No cenário internacional, os veículos elétricos enfrentam obstáculos técnicos e mercadológicos. O recente recall de 97 mil carros pela chinesa BYD expôs falhas de produção em larga escala. No Brasil, dificuldades de revenda fizeram locadoras como a Movida suspenderem compras de elétricos, que chegaram a desvalorizar até 40%.
Problemas como infraestrutura insuficiente, escassez de matéria-prima e altos custos de produção dificultam a adoção em massa. Nos EUA, os estoques de veículos elétricos permanecem elevados, com vendas abaixo das expectativas, enquanto governos debatem a sustentabilidade dos subsídios.
“Ilusão elétrica”?
Relatórios críticos, como “A Ilusão Norueguesa”, questionam os reais benefícios ambientais dos elétricos. A mineração intensiva e a dependência de energia de fontes fósseis, como carvão, limitam o impacto positivo da tecnologia. Mesmo na Noruega, referência mundial, a redução no consumo de combustíveis fósseis foi de apenas 4% entre 2010 e 2022, apesar dos incentivos.
Fabricantes como Ford, GM, Toyota e Volkswagen têm ajustado suas metas de eletrificação, reconhecendo a necessidade de linhas diversificadas. Híbridos, combustão interna e elétricos coexistirão para atender a diferentes demandas e mercados.
A Toyota, por exemplo, vai além do automotivo, investindo em projetos espaciais, como o financiamento da Interstellar Technologies, sinalizando que sua visão de sustentabilidade inclui múltiplos horizontes.
O Japão ensina que soluções alternativas podem coexistir com tendências globais. Embora a transição para os elétricos pareça inevitável, ela dependerá de avanços tecnológicos, políticas públicas equilibradas e da aceitação dos consumidores. Híbridos e inovações emergentes, como o motor compacto e eficiente e-Rex de origem espanhola, podem ser passos importantes ou até soluções duradouras em um mercado automotivo em constante transformação.
O desafio não é apenas adotar novas tecnologias, mas entender como elas se integram à realidade econômica e ambiental. Afinal, mobilidade sustentável é mais do que uma tendência — é uma necessidade que exige pragmatismo e inovação.
Edmundo Fraga (*) é empresário do setor imobiliário, fundador e ex-presidente do Kart Clube de Ipatinga