Por William Saliba (*)
Na última quarta-feira (22), tropas das Forças Armadas e milícias venezuelanas foram vistas concentradas no lado brasileiro da fronteira, em um ato que muitos interpretaram como uma provocação direta à soberania nacional. Vídeos e relatos da população local rapidamente se espalharam pelas redes sociais, amplificando a sensação de indignação e insegurança.
Diante do episódio, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve-se em silêncio. Apenas após a ampla repercussão, houve uma manifestação oficial. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, em entrevista à CNN, tentou tranquilizar a população ao afirmar que “a situação na fronteira está sob controle”. Segundo ele, o movimento venezuelano está relacionado à operação militar “Escudo Bolivariano 2025”, que envolve exercícios de larga escala, incluindo tropas, veículos blindados e a interrupção temporária da passagem de pedestres e veículos na fronteira, que durou 12 horas.
A mobilização militar venezuelana, que inclui Forças Armadas, órgãos de segurança civil e as chamadas Unidades de Reação Rápida (URRA), coincide com a estratégia do presidente Nicolás Maduro de reforçar sua posição interna e buscar visibilidade internacional. Desde sua posse, em 10 de janeiro, esta é a segunda vez que a fronteira com o Brasil é fechada. Maduro, frequentemente criticado por governar com práticas autoritárias, chegou a declarar publicamente seu interesse em anexar Pacaraima, município brasileiro em Roraima, ao território venezuelano.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro classificou o fechamento da fronteira como uma “decisão unilateral das autoridades venezuelanas”, mas evitou adotar um tom de confronto. Paralelamente, a Polícia Militar de Roraima (PMRR) informou que continua monitorando a área e que comunicará eventuais atualizações sobre a situação. No entanto, a atribuição dessa responsabilidade à polícia estadual levanta questionamentos. Não seria essa uma função prioritária do Exército Brasileiro?
A situação escancara fragilidades na postura das Forças Armadas brasileiras, que, sob denúncias de sucateamento e baixa remuneração, permanecem inertes diante das provocações externas. Vale lembrar que as Forças Armadas são instituições de Estado, não de governo, e têm como dever constitucional a defesa da soberania nacional. Contudo, os atuais comandantes, indicados pelo governo Lula, são alvo de críticas por adotarem uma postura considerada complacente em um momento de tensão geopolítica.
A mobilização venezuelana na fronteira com o Brasil ocorre em um contexto de alta tensão política na Venezuela, marcada pela instabilidade econômica e social e pela busca de Maduro por consolidar sua liderança interna e desafiar potências regionais. Por outro lado, a resposta brasileira, até o momento, sugere uma abordagem diplomática cautelosa, mas que não satisfaz parte da população e setores que esperavam uma reação mais firme.
A soberania brasileira, para muitos, parece estar à mercê de interesses externos. E os altos comandantes brasileiros mais parecem “generais da banda”, como lembra a música de grande sucesso do carnaval de 1950.