Por William Saliba (*)
Embora hoje professe o cristianismo à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, fui católico praticante por mais de cinco décadas e mantenho profundo respeito por todos os meus familiares que seguem fielmente os ensinamentos da Igreja Católica. Dito isso, foi com surpresa e preocupação que recebi um questionamento da minha neta caçula, de apenas 13 anos, acerca de uma orientação recebida na catequese: a de não utilizar ramos naturais de palmeira no Domingo de Ramos, substituindo-os por ramos artificiais de plástico. A justificativa? Seguir as diretrizes da Campanha da Fraternidade de 2025 (CF 2025).
Essa orientação é um sintoma claro da infiltração da chamada “cultura woke” e da ideologia comuno-socialista no seio da Igreja, promovida especialmente por meio da Teologia da Libertação — uma corrente que há décadas desvirtua a doutrina católica para transformá-la em instrumento de militância ideológica.
O próprio texto-base da CF 2025 escancara essa mudança de foco. Em vez de tratar da salvação das almas — missão primeira e inegociável da Igreja de Cristo —, promove abertamente o conceito de “conversão ecológica”, um eufemismo para a reengenharia cultural e social com base em uma nova moral ambientalista.
Como alerta o jornalista e youtuber católico Bernardo Küster esclarece: “a Campanha da Fraternidade abandonou a neutralidade espiritual e adotou uma pauta política concreta, totalmente alinhada à Agenda 2030 da ONU — um projeto globalista que preconiza a substituição de valores tradicionais por diretrizes supranacionais baseadas em “sustentabilidade”, “justiça climática” e “equidade de gênero”, entre outros termos vagos e ideologicamente carregados.
Não se trata mais de cuidar da criação divina como bons administradores — como bem ensinou o Papa Bento XVI —, mas de implantar uma “justiça socioambiental” que exige uma nova economia, um novo padrão de consumo, uma nova estrutura política. Em outras palavras, uma transformação radical da sociedade, da economia e da cultura, sob o pretexto de uma “ecologia integral”. Trata-se, claramente, de uma proposta de matriz socialista.
No item 132 do texto-base da CF 2025, a intenção é exposta sem rodeios: “a conversão ecológica é um novo modo de ser no mundo”. Não se trata de uma reconciliação com o Evangelho, mas de uma mudança de consciência moldada por preceitos socioambientais, isto é, um projeto de engenharia social. Onde está, então, a salvação da alma? Onde está a centralidade de Cristo?
A ausência de fundamentação teológica sólida na campanha é notória. A CF 2025 apoia-se em teologias modernistas, como a ecoteologia de Leonardo Boff, figura emblemática da Teologia da Libertação e defensor de pautas alinhadas ao pensamento progressista-globalista. É um afastamento perigoso da tradição milenar da Igreja e da doutrina cristã que coloca a alma humana — e não o meio ambiente — no centro da missão evangelizadora.
Convém recordarmos as palavras firmes de São Paulo: “Virão tempos em que não suportarão a sã doutrina, mas, tendo comichão nos ouvidos, acumularão para si mestres segundo os seus próprios desejos; e se desviarão da verdade, voltando às fábulas.” (2Tm 4,3-4)
A fé católica não pode — e não deve — ser reduzida a um projeto político travestido de espiritualidade. É preciso vigilância, discernimento e coragem para denunciar essas distorções doutrinárias que, sob o verniz de caridade e justiça, minam os fundamentos da fé e da civilização cristã.